João 14.04-06: JESUS É O CAMINHO

Jesus é o Caminho

1. EVANGELHO DE JESUS: A NOTÍCIA PUBLICADA
Quando Jesus ressuscitou e apareceu aos discípulos, todos ficaram eufóricos. Nos seus corações, cantavam porque o poder de Deus havia se manifestado; suas esperanças tinham agora uma prova concreta; suas vidas respiravam alegria de novo.
Não havia dúvida: a voz de Jesus era a mesma; o modo de caminhar era o mesmo; o olhar era o mesmo. Era hora de celebrar a sua ressurreição.
Entre os discípulos, no entanto, havia um que não se deixava levar pelos sentidos. Ele era daqueles que não levam dúvida para casa. Em seu método, chegou à beira da insolência. Na verdade, quando Jesus reapareceu pela primeira vez ao grupo todo, ele estava ausente.

É provável que Tomé, membro do grupo primitivo dos discípulos de Jesus, tenha entrado numa profunda crise espiritual com a morte de Jesus. Talvez Tomé possa ser apresentado como o exemplo daqueles que se decepcionam quando as coisas não vão bem ou aparentam não ir bem. A morte de Jesus parecia uma coisa ruim, mas não era, assim como alguns eventos em nossas vidas, que parecem ruins, mas o tempo demonstra que não o são.
Talvez Tomé seja como o filho para quem o pai só é bom quando lhe dá tudo; então, quando deixa de dar, não é um pai tão bom assim.
Talvez Tomé seja aquele tipo de cristão que vai à sua igreja de vez em quando. Há coisas acontecendo na igreja, mas ele mal sabe. Deus tem falado, mas ele não tem ouvido. Orações são respondidas, mas elas lhe parecem apenas coincidências.

Jesus, antes de morrer, deixou a ordem para que ficassem juntos, mas Tomé, parece, tinha coisas melhores para fazer do que estar junto com seus irmãos. Talvez por isto, ele “Tomé, chamado Dídimo [isto é: o Gêmeo], um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu” (João 20.24).
Quando os discípulos o encontraram, gritaram animados:

— [Tomé], vimos o Senhor [Jesus Cristo]!
Tomé lançou um balde de água fria no entusiasmo de todos, sem cerimônia:

— Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei.
Falou e saiu de cena.
Uma semana depois, voltou à reunião. Só então pôde ouvir:

— Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia.
Só então o rapaz creu, declarando que Jesus era o seu Senhor e o seu Deus (João 20.28).

Há pessoas que não crêem em Deus porque também querem ver um Deus concreto, como se fosse um ídolo. Alguns ainda estão esperando que Ele fale em voz audível, como gritou a Saulo de Tarso (“Saulo, Saulo, por que você me persegue?”). Alguns querem provas racionais de Sua existência, como se Ele coubesse no compasso da razão.
Estamos cercados de Tomés. O ideal, no entanto, é que estes Tomés sigam em frente. Que voltem, como o discípulo, na semana seguinte para ver o poder de Deus se manifestar. Que mantenham suas dúvidas, não suas certezas de que Deus não existe… Que tenham a coragem de perder o controle de suas vidas, para entregá-lo a Deus… Que tenham a coragem de se arrolar no grupo dos crentes, que um dia foram incrédulos. Que tenham a coragem de admitir que a razão é indispensável, mas não é suficiente… Que tenham a coragem de reconhecer que Deus se manifesta quando Ele se manifestar… Que tenham a coragem de escutar Jesus dizendo:

— Vocês conhecem o caminho para onde vou (João 14.4).

Esta afirmativa faz parte do programa de consolo aos discípulos (João 14), diante da iminência de Sua partida.
Eles não deviam se perturbar com o que lhes aconteceria. Sua palavra deve ser recebida como uma promessa, que trazia consolo aos corações dos seus ouvintes. Este consolo é uma das dimensões do Evangelho de Jesus Cristo.
O Evangelho de Jesus Cristo é a publicação da notícia de que Deus nos ama pessoalmente.

2. O EVANGELHO TEM QUE SE TORNAR PESSOAL
A atitude de Tomé nos mostra que esta notícia é mais que uma notícia.

— Senhor [disse Tomé a Jesus], não sabemos para onde vais; como então podemos saber o caminho? (João 14.5)

Um dia desses li que um dia na face da terra houve um réptil de 15 metros de comprimento. Os cientistas ficaram tão deslumbrados que lhe deram o nome provisório de “o monstro”. Li e passei para a próxima notícia. Minha vida não será alterada em nada com esta informação.
Como sabemos, um jornal (ou telejornal) tem inúmeras notícias. Lendo-as (vendo-as), ficamos sabendo. Podemos ignorar a notícia. Podemos ser informados pela notícia. Podemos ser transformados pela notícia.
Há notícias que a transformam. O Evangelho, a notícia de que Deus nos ama pessoalmente, só tem sentido se nos transformar de incrédulos em crentes, de tristes em alegres, de desconfiados em confiantes, de angustiados em esperançosos, de perdidos em salvos.
Assim, aqueles que nasceram num lar cristão são informados pela notícia de que Deus ama o ser humano. Aqueles que freqüentam uma igreja cristã são informados pela notícia de que Deus ama as pessoas. Essas pessoas podem ficar muito felizes com esta notícia, mas isto não quer dizer que foram transformados pela notícia.
Quem é transformado pelo Evangelho recebe consolo na hora da aflição, seja ela qual for. Quando diz “o Senhor é meu pastor e nada me faltará”, não repete uma frase; afirma uma experiência de fé.
Quem é transformado pelo Evangelho pode ter dúvidas quanto ao poder de Deus em sua própria vida, mas logo é aquecido pela certeza, quando olha para aquilo que já lhe aconteceu.
Quem é transformado pelo Evangelho se sente orientado quando tem que tomar uma decisão.
Quem é transformado pelo Evangelho lê a Palavra de Deus e deixa que Deus  o tome pela mão para conduzir, mesmo que muitas vozes se levantem.
Quem é transformado pelo Evangelho se envolve no projeto de Deus para transformar este mundo num lugar justo, antecipando o que será a vida justa no céu.

Não basta tomar conhecimento desta notícia. É preciso torná-la algo de efeito pessoal. Eis o que aprendemos com Tomé, quando duvida: “não sabemos para onde vais; como então podemos saber o caminho?” (João 14.5)
Tomé não quer um Evangelho genérico; ele quer um evangelho pessoal. Por isto, questiona a Jesus. Ele quer tomar uma decisão pessoal, mas uma decisão pessoal implica em perguntas pessoais. Tomé não é daqueles que dizem que compreendem o que não compreendem. Ele está confuso e põe sua confusão na conversa. Jesus, o que vai acontecer conosco depois de sua morte? Mestre, o que vai acontecer conosco depois da nossa morte? Tomé nos ajuda a fazer as questões essenciais da vida.

Como Tomé, faça as suas perguntas. Quais são as suas indagações ainda não respondidas?
Tomé sabia para onde queria ir, mas não sabia como chegar lá. Então, perguntou a Jesus, mesmo de um modo pouco amigo.

3. A RESPOSTA DE JESUS
E Jesus responde. Ele sempre responde.
Antes, Jesus disse que nós sabemos onde queremos chegar. Nosso problema é que não conhecemos o caminho.
Agora ele completa sua resposta, de modo claro:

— Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim (João 14. 6).

Muitos aqui já tiveram a experiência de chegar a uma cidade (ou a uma rua de uma cidade) e tiveram dificuldades, mesmo com o endereço na mão. Já tivemos muitas experiências assim.
Eu me lembro que, há alguns anos, eu estava perdido em São Paulo. Eu tinha um compromisso familiar lá todo sábado. Eu saía de Piracicaba de carro e voltava. Um dia resolvemos dar um giro pela cidade. Na hora de voltar, a dificuldade quase nos desesperou. Só terminou o sofrimento quando um motorista nos conduziu, nós atrás e ele na frente, até à marginal Tietê. Ufa! O homem nos ensinou o caminho.
O problema é que o caminho até o endereço procurado é feito de muitas possibilidades. Temos que perguntar. E as respostas às vezes são erradas. Eu me lembro naquela experiência em São Paulo que perguntávamos: o que fazer para pegar a Marginal, que nos levava a rodovia dos Bandeirantes, rumo a Piracicaba. E as pessoas me respondiam. Dependendo de onde eu estava, indicavam-me a Marginal Pinheiros, mas eu queria a Marginal Tietê, só que eu não perguntava certo.
Tomé queria ir para o céu, mas não sabia o caminho. Muitos de nós, também. Muitos querem ir para ao céu com base nos seus merecimentos; há pessoas que, por terem uma vida reta moralmente, acham que merecem ir para o céu. Essas pessoas tomam o caminho da auto-suficiência. Para elas, é muito estranha a resposta de Jesus. É fácil de mais. De fato, não precisamos fazer nada para ir para o céu: Jesus já fez tudo, ao morrer na cruz em nosso lugar.
Muitos querem ir para ao céu, mas acham que não merecem, tal o seu pecado. De fato, eu também não mereço. Eu não mereço, mas vou, porque Jesus fez o caminho por mim, pagando o preço por mim.
Muitos querem ir para ao céu, mas acham que céu é algo que não tem sentido, porque a vida não tem sentido. Há muita gente dizendo que a vida termina aqui e ponto. Cada vez mais vamos ouvir isto.
Os GPS que usamos dizem isto. Um dia destes peguei um táxi em São Paulo. O GPS, um instrumento que auxiliar os motoristas a encontrar a direção no emaranhado de ruas de uma cidade, estava ligado. A voz da máquina, conectada a um satélite que indicava onde estava o veículo, diz para virar a direita, mas o motorista não virava, comentando, com ironia: “o GPS não sabe que hoje tem uma feira nesta rua”.
Há muitas possibilidades no caminho. Nem o GPS é  seguro. Precisamos duvidar da orientação dos GPS, porque eles não sabem nada sobre o céu. Nossos amigos não sabem nada sobre o céu, só Jesus.

4. NOSSA RESPOSTA
Gosto de Tomé. Ele não se contentou com o que o seus amigos lhe disseram. Ele conferiu com Jesus, que disse: “eu sou o Caminho”.
Gosto de Tomé. Ele não seguiu seus próprios desejos. Ele seguiu a Jesus. Ele entendeu que a felicidade está acima da satisfação dos desejos.
Gosto de Tomé. Ele era um homem da razão, mas não se deixou escravizar por ela. Diante da evidência chamada Jesus, diante de seus olhos, ficou com Jesus.
Gosto de Tomé. Ele entendeu que o caminho para o céu passa pela cruz.
Aprendemos isto com um hino antigo:

Foi Jesus que abriu o caminho pra o céu;
não há outro meio de ir.
Nunca irei entrar no celeste lar
se o caminho da cruz errar.

Para o céu com Jesus irei.
Para o céu com Jesus irei.
Grande é meu prazer de certeza ter:
para o céu pela cruz irei.

Certamente eu vou no caminho da cruz
com resolução andar.
É desejo meu desfrutar no céu
minha herança que Cristo deu.

Os caminhos ímpios do mundo deixei,
jamais neles vou seguir;
sigo, pois, Jesus com a minha cruz
no caminho que ao céu conduz.

(Hino 306 CC  O Caminho da Cruz — Pounds/Gabriel)

Jesus nos abriu o caminho para o céu. Ninguém entra no céu sem ser crucificado com Cristo na cruz. É crucificado com Cristo na cruz quem chega perto de Jesus para ter os seus pecados perdoados por Ele. É crucificado com Cristo na cruz quem convida a Jesus para derramar sobre a sua vida o seu sangue salvador. É crucificado com Cristo quem se reconhece pecador e, reconhecendo-se pecador, abraça a graça de Jesus na cruz em seu favor. É crucificado com Cristo quem abre mão de sua posição, intelectual, financeira ou social, para ser um alegre e feliz seguidor de Jesus. É crucificado com Cristo aquele que não troca Jesus por nada, nem por seus instintos, nem por seus desejos, nem por seus amigos, nem por  seus familiares, quando instintos, desejos, amigos e familiares impedem seguir o caminho que Jesus abriu.
Quem não conhece o destino final não sabe qual é o caminho a ser percorrido. Jesus já nos contou qual é o seu destino final e qual o caminho até. Seu destino é o céu, onde hoje está preparando nossa casa. O caminho é Ele mesmo.
Agora, então, sabemos para onde Jesus vai e por qual caminho. Jesus nos espera no céu. Para ir lá, precisamos passar pelo caminho da cruz, o mesmo caminho que Ele fez.
Confiamos nEle?
Confiemos nEle e sigamos pelo caminho que abriu. Obrigado, Tomé: Jesus é o caminho, a verdade e a vida.