Ultimamente temos recebido muitas notícias sobre pastores acometidos de doenças agudas, que exigem ação rápida e muitas vezes complicada. Não quer dizer que antigamente os pastores não adoeciam. É que, por um lado, os meios de comunicação são agora muito mais rápidos e completos, e, por outro lado, o número de pastores aumentou muito. Também é possível que os mesmos males modernos que atingem a população em geral, também estejam atingindo os pastores.
Isso tem nos levado a pensar sobre a necessidade de medidas preventivas, mas vejo que nesta questão se tem dado muito mais ênfase ao papel da igreja e das outras pessoas que interagem com o pastor, do que ao papel dele próprio. Por isso gostaria de fazer algumas considerações a respeito. Os pastores fazem muitas reuniões e encontros entre si. Tenho estado presente em alguns deles e podido observar seus hábitos, conceitos e preconceitos. No que tange à saúde pude observar o que segue, e que não é tudo.
Em geral os pastores cuidam muito mal da sua saúde. Por exemplo, muitos deles passam anos sem fazer um simples exame de sangue, não sabendo, portanto, como anda o seu índice de colesterol, glicose, plaquetas, ácido úrico e outros tantos índices importantes para determinar providências às vezes urgentes. Vejo que a maioria dos meus colegas trata-se apenas em função de sintomas, e não profilaticamente. São capazes de gastar um bom dinheiro com um telefone celular sofisticado, mas não gastam com atitudes preventivas de saúde (um hemograma completo custa mais ou menos vinte reais).
Além disso, muitos são preconceituosos. Em um dos últimos retiros de que participei assisti, constrangido, a uma série de brincadeiras quanto ao exame de próstata; logo eu, que já fiz seis biópsias da próstata e só por isso descobri que tenho um tipo de neoplasia que é considerado pré-câncer, e assim estou fazendo o tratamento correto. Aliás, apelo aqui aos pastores que deixem de lado o preconceito machista e procurem o quanto antes um urologista. O câncer de próstata é uma doença silenciosa; quando dá sinal muitas vezes já é tarde demais.
Observei também que os pastores em geral comem muito mal. Não estou dizendo que passam fome, pelo contrário, muitas vezes comem demais. Virou moda fazer reunião com uma refeição qualquer, seja café da manhã, lanche, almoço ou jantar. Até parece que os pastores só se reúnem para comer. Nessas reuniões, e também nos retiros de pastores, vejo, com espanto, colegas que sabidamente têm restrições dietéticas severas darem rédea solta ao seu apetite. São doentes cardíacos, diabéticos, portadores de artrose/artrite, colite, gastrite e outras doenças impositivas de dieta que comem de tudo, sem nenhum cuidado. A preferência é por comidas gordurosas, muito condimentadas, embutidos, carnes vermelhas e alimentos que contêm muito carboidrato. E também por refrigerantes. Entretanto, faço aqui a observação necessária de que nem sempre há opção de alimentação adequada nessas ocasiões.
Percebi, também, que os pastores em geral separam muito pouco tempo para si mesmos; para descansarem, divertirem-se, meditarem e desligarem-se um pouco das atividades do pastorado. Com isto vão adquirindo uma sobrecarga física, mental e emocional cujo efeito cumulativo fatalmente redundará em uma doença qualquer, como gastrite, arritmia cardíaca ou síndrome do intestino irritável. O problema é que essa doença poderá ser também um infarto, um acidente vascular cerebral ou mesmo um câncer. Caro colega: lembre-se que o seu ministério é um projeto de Deus e não o seu projeto; portanto, não trabalhe demais, como se tudo dependesse de você. Descanse no Senhor e deixe que ele dirija o projeto. Quando Deus realizou um dos seus maiores projetos descansou no sétimo dia, para mostrar-nos que nós também devemos descansar.
Enfim, o que quero dizer é que os principais responsáveis pela saúde dos pastores são eles mesmos. O verdadeiro cuidado começa por eles mesmos, sem dispensar o cuidado dos outros.
Pr. Sylvio Macri
I.B.Central de Oswaldo cruz