Mensagem pregada na Igreja Batista Itacuruçá em 07/10/2007 1. OS TEMPOS DA NOSSA JORNADA Ao escrever o que talvez fique como seu último livro, Billy Graham deu-lhe o título feliz de “A jornada”. A expressão (também referida como “peregrinação” em outras versões) aparece em 1Pedro 1.17. Gosto de pensar na minha vida nestes termos: como uma jornada. Numa perspectiva cristã, a vida é uma jornada (ou peregrinação) em três tempos: o primeiro tempo se deu antes da redenção pelo precioso sangue de Jesus Cristo; o segundo (que é o atual) teve início desde a nossa redenção pelo precioso sangue de Jesus Cristo; o terceiro ainda virá, após a nossa glorificação, a que prefiro chamar, neologisticamente, de celestialização, para indicar o tempo da glória em que as nossas vidas serão celestes (isto é, viverão na dimensão do céu, perfeitos na presença dAquele é já é perfeito). Se nossa vida é uma jornada, ela é, ao mesmo tempo, tão essencial quando relativa. Pode soar paradoxal a convivência desses dois adjetivos (importante e relativa) e o é. Nossa vida é essencial porque nos foi entregue por Deus, tendo, portanto, nascido no céu, para que a desenvolvamos aqui. Deve ser vivida com temor. Nossa vida é relativa porque não termina aqui, porque vai continuar no céu, não devendo nós, então, nos apegar a ela aqui como se não fosse uma jornada. Deve ser vivida na perspectiva da flor, que é linda, mas vai desaparecer. O paradoxo termina aqui, para começar um mistério: quando uma flor desaparece, desaparece; quando uma vida humana desaparece, nasce na outra, onde tem início o terceiro tempo da nossa jornada. 2. TEMER PARA SER LIVRE O apóstolo Pedro está preocupado (e nós devemos estar também) com a segunda etapa da nossa jornada. Quando, nos versos 23-24, ele cita Isaías 40.7-8 (“A relva murcha e cai a sua flor, quando o vento do Senhor sopra sobre eles; o povo não passa de relva. A relva murcha, e as flores caem, mas a palavra de nosso Deus permanece para sempre”), procura nos mostrar que não podemos nos apegar ao terceiro tempo da nossa jornada como se fosse o único.. Antes, devemos viver a jornada de agora com temor. A expressão “temor” é recorrente na Bíblia, especialmente no livro de Provérbios, onde aprendemos que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Queremos saber (sabedoria), mas não queremos temer (temor). Nossa época não quer temer a Deus porque não querer perder a sua liberdade. E nossa época diz isto por não entender o que significa “temer a Deus”, que é tudo, menos ter medo. Ignorantemente nossa cultura pensa que temer é ter medo. Nossa cultura não entende que tememos a Deus quando O chamamos de Pai (verso 17). Não se tem medo de pai bom, só de pai ruim, que não ama de fato. De pai bom se tem respeito, consideração, reconhecimento por seu amor, atenção às suas palavras. Nossa cultura não entende que tememos a Deus quando sabemos que somos julgados por Ele imparcialmente. Diferentemente de nossa cultura, que defende que cada um de nós é seu próprio juiz, precisamos ter a coragem de desejar este julgamento, que é melhor que o julgamento dos homens, sempre injusto. Nossa cultura não entende que tememos a Deus quando reconhecemos que fomos amados por Ele de tão modo que Ele nos comprou, não com moedas que passam, mas com o sangue imperecível do Seu Filho Jesus Cristo. Nossa cultura acha que só tem valor o que pode ser comprado com dinheiro. Nossa cultura não entende que tememos a Deus quando O convidamos para purificar as nossas vidas, redimindo-nos de uma vida vazia para uma vida com pleno sentido. Nossa cultura propõe que nos lambuzemos com o pecado. Quem teme a Deus quer ser purificado por Ele. Nossa cultura prega o amor romântico, que é o amor entre iguais, o amor da troca. Nossa cultura não entende que tememos a Deus quando nos dispomos a amar o nosso próximo, sejam eles iguais a nós ou diferentes de nós (e não apesar de serem diferentes, mas por serem diferentes). Nossa cultura não sabe o que é amor. Nós também não, a menos que temamos a Deus. Quando tememos a Deus, consideramos a nossa vida como um presente de Deus que deve ser gasta à toa; mas como um instrumento para tornar felizes outras vidas. Temer a Deus é amar a Deus. Quem ama a Deus não perde a sua liberdade; antes, realiza-a. Temer a Deus é falar com Ele como se fala como a um amigo, a exemplo do que fazia Moisés, sobre quem a Bíblia informa: “O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com seu amigo” (Êxodo 33.11a). Abraão é também chamado de amigo de Deus, pela fé que tinha (cf. 2Crônicas 20.7; Tiago 2.23 — “Cumpriu-se assim a Escritura que diz: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça, e ele foi chamado amigo de Deus”). Temer a Deus é contar com Ele como amigo. Mesmo em seu lamento, Jó compreendeu perfeitamente esta característica do amor de Deus para conosco, quando gritou: “Saibam que agora mesmo a minha testemunha está nos céus; nas alturas está o meu advogado. O meu intercessor é meu amigo, a quando diante de Deus correm lágrimas dos meus olhos; ele defende a causa do homem perante Deus, como quem defende a causa de um amigo” (Jó 16.19-21). Eu disse que quem ama a Deus não perde a sua liberdade; antes, realiza-a. E eu o digo autorizado por Jesus Cristo, que disse aos seus discípulos, o que nos inclui, se somos seus discípulos: “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido” (João 15.15). Por isto, não tenhamos dúvidas: nossa jornada, com temor a Deus, é contracultural. A quem queremos ouvir? A cultura, que tem