1 Coríntios 5.1-13: A DISCIPLINA DE DEUS

A DISCIPLINA DE DEUS
1 Coríntios 5.1-13:

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 3.9.2000 (manhã)

1. INTRODUÇÃO
O capítulo 5 de 1Coríntios nos ensina como tratar os pecadores em nosso meio. Havia naquela igreja um grave problema
Todos os pecados são graves, mas aquele punha em risco a comunidade, porque havia uma cumplicidade (e uso a palavra no sentido original, e não no sentido que os enamorados lhe têm dado…) entre a fonte do problema e a comunidade de que fazia parte.
As recomendações do apóstolo Paulo àqueles primeiros cristãos são absolutamente contemporâneas e úteis, como veremos.

2. O PROBLEMA
Os problemas dos coríntios eram essencialmente dois. O primeiro era a imoralidade e o segundo era o tipo de tolerância, tolerância orgulhosa, para com a imoralidade (vv.1 e 2)
Um dos membros da Igreja não só vivia em pecado, como se orgulhava do seu pecado. Os demais não se incomodavam com aquele pecado, que tendia a se tornar um padrão entre eles. A justificativa de todos era que os cristãos, que vivem pela graça, estão livres para fazer o que quiserem. Os coríntios se achavam tão superiores que achavam que podiam fazer do corpo o que bem quisessem, numa espécie clara de libertinismo. Assim, este negócio de “padrão moral” era do tempo da lei, lei que fracassara, lei que Jesus Cristo abolira. A graça os libertara destes padrões. Na cabeça de alguns, o seguinte pensamento começava a correr: se Fulano faz isso, eu também posso fazer. O “vale-tudo” estava prestes a se instalar.
Este tipo de raciocínio persiste, clara ou veladamente, tanto na área da moral sexual, como em outras áreas, algumas das quais o apóstolo Paulo menciona nos versículos 10 e 11.
Há cristãos, ou indivíduos que se dizem cristãos, que vivem na prostituição como completos devassos, que são tão avarentos que jamais cometem um ato de generosidade nem mesmo para com Deus, que seguem ídolos feitos por mãos humanas, que têm prazer em usar a sua língua para ferir às escondidas seu próximo, que fazem do álcool a sua alegria e que roubam os bens dos outros
Há muitos cristãos do tipo “que que tem?”. Quando alguém os questiona, eles respondem: o que estou fazendo não tem nada demais. Conheço até pastores que fazem pior do que eu. Eles se esquecem que o verdadeiro cristão, o cristão que procura ser 100% cristão, tem que ter um padrão necessariamente superior. O padrão elevado não salva, mas mostra qual é o nosso compromisso.
O pecado produz orgulho, mesmo orgulho espiritual, para ficar escondido.
Há também os cristãos que não justificam seus pecados. Eles admitem que precisam mudar, mas são incapazes de dar um passo. Há cristãos enredados pelo pecado, porque o pecado é bom. Aquele homem a que Paulo se referia continuava no pecado, porque o pecado lhe trazia prazeres que os padrões elevados de Deus não traziam. Pecar é bom, muito bom, especialmente quando conseguimos justificá-los. Como diz o sábio, doce é o pão da mentira… até a boca se encher de pedras (Pv. 20.17). O homem de Corinto estava na primeira parte do versículo…

3. A SOLUÇÃO
Como o comportamento deste homem tendia a se tornar padrão, para muitos, Paulo é obrigado a oferecer uma solução radical. É possível que o próprio apóstolo já tivesse esgotado outras instâncias. Já tinha dialogado com a Igreja, recomendado a disciplina necessária, mas ainda não radical. Aquele que vivia assim orgulhava-se de proceder assim e estimulava outros a viver assim devia ser afastado da comunidade. Os termos são fortes:

Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que cometeu este ultraje. Em nome de nosso Senhor Jesus, congregados vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus. (vv. 3-5)

3.1. Afastando o pecador
Esta era a sugestão de Paulo para a preservação da Igreja. No entanto, ele não queria que fosse uma decisão dele, mas de todos. Por isto, ele diz: “congregados vos e o meu espírito”, isto é, “concordes (de acordo), vocês e eu”. A disciplina não pode ser decisão de uma pessoa, mas da comunidade. Há riscos nisso, porque a comunidade, como a de Corinto, pode tolerar excessivamente o pecado, mas há riscos maiores em apenas uma pessoa decidir tudo, porque o seu julgamento pode ser falho.
O resumo da recomendação paulina é o seguinte: o pecador Fulano de Tal deve ser afastado da comunhão dos crentes para, dando valor a ela, cair em si, destruir suas inclinações e voltar à comunhão com o Corpo de Cristo. Ser “entregue a Satanás” significa ser entregue ao seu próprio pecado, de modo a viver claramente para ele e não na duplicidade. Significa ser afastado do convívio da Igreja, de modo a ver claramente que não dava para levar duas vidas, achando possível servir ao mesmo tempo a Deus e a Satanás. A mesma instrução aparece em Apocalipse: quem é sujo suje-se mais ainda (Ap 22.11).
Enquanto a Igreja deixasse que aquele pecador tolerasse a arrogante duplicidade daquele seu membro, ele provavelmente jamais cairia em si. Paulo recomenda uma solução de risco, com o desejo de que ele viesse a se arrepender e então fosse salvo (v. 5), já que seu comportamento indicava que não o era.
Paulo estava preocupado com aquele indivíduo, mas também com toda a comunidade. Ela estava ignorando, em seu orgulho (v. 6), que um pouco de fermento leveda a massa toda? (v. 6) Por isto, entendia que aquele pecador (fermento velho) devia ser retirado da comunidade (massa). Do contrário, aquele fermento faria um pão com tais características que anulariam o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário (v. 7).
O cristão tem uma responsabilidade com a sua comunidade. A comunidade tem uma responsabilidade com cada um dos seus integrantes. Para o bem de todos, a tolerância não pode ser absoluta. Se ela levar a comunidade à auto-destruição, é melhor que se perca um, mediante uma cirurgia.
A disciplina é para corrigir, não para punir. A disciplina da Igreja não quer dizer extinção ou excomunhão, porque não é o pertencimento à Igreja que salva, mas a fé em Jesus Cristo. A missão da Igreja é levar as pessoas ao arrependimento. A disciplina que ela ministra deve ter este mesmo objetivo. A Igreja não existe para fazer justiça com suas próprias mãos, mas para oferecer a graça.
Neste sentido, se a comunidade tem uma pessoa, ou mais de uma, que impede que ela cumpra seu ministério, a Igreja deve agir, disciplinando, mas não abandonando o disciplinado, que é o grande erro de muitas igrejas.

3.2. Afastando-se dos pecadores
O apóstolo Paulo vai além do caso e faz aplicações mais amplas.
Antes, ela já tinha escrito à igreja (uma carta que se perdeu), com recomendações que não foram bem entendidas ou não foram cumpridas (v. 9). Ele tinha recomendado que os cristãos não deviam manter qualquer tipo de relacionamento com os que vivem fora dos padrões de Deus, por viverem na prostituição, na avareza, no roubo e na idolatria (v. 10), mas que, apesar disso, se diziam cristãos..
Alguns interpretaram que a regra fosse geral, pelo que o apóstolo lembra que, se fosse, todos os cristãos teriam que se retirar da sociedade em que vivem, o que é impossível (v. 10).
Paulo repete o mesmo argumento aplicado ao pecador que devia ser expulso do grupo (tirai este iníquo; tirai todos os iníquos — v. 13). Se há indivíduos que, embora se dizendo cristãos, vivem como se Cristo não tivesse morrido por eles, porque escravos da devassidão, da avareza, da idolatria, da maledicência, da intemperança ou da desonestidade, esses indivíduos não devem ter livre trânsito na Igreja, porque eles vão contaminá-la.
Os cristãos devem se afastar do convívio destas pessoas. Esta é a orientação divina, por meio da Sua Palavra inspirada a Paulo: Agora vos escrevo que não vos comuniqueis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem sequer comais (v. 11)
Como iremos comunicar à sociedade os padrões de Deus, se nós não os vivemos dentro de nossas própria sociedade? Este é o maior problema do Cristianismo. Nossos dedos apontam para o mundo, quando deviam apontar prioritariamente para nós mesmos. Isto se aplica no plano pessoal e no plano eclesial.
Há pais que querem que seus filhos sejam o que não são. Há crentes que querem que os incrédulos sejam o que eles não são. Esta hipocrisia tem minado pela raiz o Cristianismo. A hipocrisia tem minado pela raiz nossas igrejas.
O que fazer, então, com aquelas pessoas, que dizem ter a mesma fé que nós dizemos ter, mas vivem de um modo condenável por Deus?
Primeiramente, você tem que se perguntar se você é realmente um cristão e está disposto a viver por Cristo, seja qual for o preço a pagar.
Em segundo lugar, você tem que se perguntar se está disposto a ajudar as pessoas que estão no erro, mesmo que talvez venha perder temporariamente a sua amizade. Isto não quer dizer que você seja juiz de todos, porque você também precisa ser corrigido. Todos precisamos de disciplina. Não somos melhores que os outros. A vida é um crescimento continuado.
Em terceiro lugar, você tomar cuidado para que o seu convívio com essas pessoas não dêem a ela a impressão de está de acordo com o estilo de vida delas. Elas precisam do seu apoio, mas não é este apoio que você lhe deve dar.
Em quarto lugar, você deve se afastar das pessoas que, vivendo no pecado, têm orgulho do pecado. Sabe por que? Você pode começar a gostar de viver desse modo. Cuidado para não ser convencido de que estas pessoas estão certas no seu erro, e você errado no seu acerto.
Em quinto lugar, deve haver uma dimensão missionária em nossos relacionamentos com essas pessoas. Se elas permitem ser confrontadas com a Palavra de Deus, vale a pena insistir, mesmo tomando cuidado para não ser contaminado. Se essas pessoas mostram que querem mudar de vida, vale a pena insistir.
Em sexta lugar, devemos tomar o cuidado para não cair no legalismo farisaico, aquele marcado pela disposição de julgar os outros, de classificar os pecados com menores ou maiores e pela incapacidade de ver os próprios pecados. Em tudo, nosso comportamento deve ser movido pelo amor. Na dúvida, apliquemos a graça. Se for para errar, erramos acreditando.
A síntese bíblica é que devemos evitar o convívio com o pecador que, dizendo-se irmão, comporta-se sistematicamente como impuro, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou ladrão. A igreja é o lugar dos impuros, dos avarentos, dos idólatras, dos maldizentes, dos beberrões e dos ladrões… desde que arrependidos.
Quem continua no erro não deu meia-volta na sua vida.

4. O CONVITE PARA A FESTA
Todos somos impuros, mas não queremos ser. Esta disposição nos capacita para a festa da Ceia do Senhor. O convite é claro:
Pelo que celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos [pães sem fermento] da sinceridade e da verdade (v. 8).
Eis como NÃO devemos participar desta festa: como se fosse um ritual mecânico e triste. Trata-se de uma festa, festa de gratidão pela redenção em Jesus Cristo, festa de gratidão pela certeza de Sua volta para nos buscar. Não é hora de olhar para baixo, mas para os lados onde estão nossos irmãos e para o Alto onde está o nosso Senhor, ansioso pela hora de vir ao nosso encontro.
Antes, nossa disposição deve ser a de uma vida sincera e veraz. Ser sincero verdadeiro é fazer coincidir nosso exterior com nosso interior, nossa fé com nossa prática. Participar da festa com sinceridade e verdade é participar com gosto e prazer; não é um participar por participar, mas um esperar pela hora do seu acontecimento.
Somos convidados a ser massa nova (fermento novo) e isto só acontece quando aceitamos o sacrifício de Jesus Cristo por nós e vivemos segundo as conseqüências deste sacrifício.

5. CONCLUSÃO
O “que que tem” é o grande inimigo do cristianismo. A lista do que nos é lícito fazer é imensa. Fracassaremos, no entanto, se não olharmos a coluna direita, onde estão anotadas as práticas que não nos convêm.
Quem está como aquele devasso de Corinto deve se arrepender. Quem está se deixando levar por ele também deve tomar um novo caminho para sua vida.
Jesus Cristo nos fez massa nova e como tal devemos viver.

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