1Coríntios 7: TEOLOGIA DA SEXUALIDADE

TEOLOGIA DA SEXUALIDADE
1Coríntios 7

Preparado para ser pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 17.9.2000 (noite)

1. INTRODUÇÃO
O capítulo 7 de 1Coríntios é um amplo manual sobre a sexualidade humana segundo o plano de Deus.
O modo de desfrutar do sexo preocupa aos cristãos de todos os tempos. Também os coríntios tinham dificuldade em relação à sexualidade. Por isto, escreveram ao apóstolo Paulo com várias perguntas, perguntas das quais só temos as respostas.
Entre eles havia duas perigosas tendências: os ascetas, que pregavam que o sexo é pecaminoso em si, e os devassos, que ensinavam que a vida sexual nada tem a ver com a vida cristã. A Igreja estava confusa. Paulo condena os dois caminhos e põe o assunto em termos adequados.

2. ATUALIDADE DOS ENSINOS BÍBLICOS
A teologia paulina acerca da sexualidade, no entanto, não se aplica apenas àquele tempo, pois que as preocupações permanecem. Há ainda quem ensine que sexo é pecado. Há ainda quem ensine que não existe pecado debaixo da linha do equador… e muito menos acima.
Se queremos viver nossa sexulidade segundo o plano de Deus, precisamos seguir os seus ensinos, alguns dos quais expressos neste difícil capítulo. A propósito, uma das expressões recorentes nele é “não eu, mas o Senhor” e seu reverso: “eu, não o Senhor”. Alguns poderão tomar esta expressão para relativizar o ensino paulino, como se na Bíblia houvesse verdade inspirada e verdade não inspirada.
Não há oposição entre o que Paulo pensa e o que Deus pensa. Quando o apóstolo diz que é o Senhor quem está falando, ele cita textos do Antigo ou do Novo Testamento (mesmo que de memória quanto ao Novo Testamento), como acontece quando se refere ao divórcio, cujo ensinamento é uma citação das orientações de Jesus Cristo (cf. Mateus 19.9).
Esta seção deve ser lida à luz de Efésios 5.22-23 e 1Timóteo 3.2-5, para não se pensar que o apóstolo era contra o casamento.
É bom termos em mente que o apóstolo escrevia a partir de sua ética: a ética do ínterim, aquela segundo a qual tudo devia ser relativizado diante do fato absoluto da volta de Cristo. É por isto que  no verso 1, que se completa com o verso 26, ele recomenda o celibato como estilo de vida. Se não considerarmos que toda a ética paulina é uma ética escatologica, corremos o risco de descartá-la. Era esta ética que permitia ao apóstolo ver as coisas como elas são, não como aparentam ser.

3. A NATURALIDADE DO SEXO
O desejo sexual é algo natural na vida das pessoas.
O natural é as pessoas se casarem, quando atraídas uma pela outra. O sexo deve ser praticado dentro do casamento. O apóstolo chega a dizer que é praticamente impossível (por causa da prostituição – v. 2) a uma pessoa viver sem exercer sua sexualidade.

1. O lugar para este exercício é o casamento monogâmico (entre duas pessoas de sexos diferentes). Cada marido deve ter apenas uma esposa (v. 2). A monogamia é um padrão neotestamentário para todas as sociedades. Há culturas poligâmicas (um homem e várias esposas) e poliândricas (uma mulher e vários maridos), que a própria experiência vai demonstrando como modelos inviáveis. Nos países africanos, os casais mais jovens tendem a ser monogamicos, porque eles mesmos foram vítimas de casamentos múltiplos, cujos resultados eram esposas preferidas e filhos preferidos.
No reino animal, a monogamia não é padrão, e há muitos humanos querendo copiar os animais. A poligamia pode ser boa para bichos, não para seres humanos. As relações extraconjugais estão na base de muitas separações. As relações extraconjugais também fizeram com que, no Brasil, as esposas sejam a grande vítima da Aids, ao ponto de as autoridades da saúde recomendarem que as esposas exijam o uso de preservativos no caso de desconfiar do seu cônjuge. É possível que haja maridos e esposas cristãos com relacionamentos fora do casamento. Eles precisam saber que estão pecando contra seus parceiros e contra Deus. Por isto, precisamos repetir os padrões bíblicos. Alguns justificam a sua infidelidade com a infidelidade do outro. Alguns justificam sua duplicidade por causa dos filhos. Quem ama mesmo os filhos fica com eles e com a mãe deles.

2. No casamento, cada cônjuge renuncia os direitos exclusivos sobre seu próprio corpo (v. 3-5), exceto quando é desrespeitado. Neste caso, o cônjuge deve se preservar do contato sexual com quem o desrespeita.
As mulheres que às vezes se ressentem do aparente machismo do apóstolo Paulo deviam ler com atenção os versículos 3 e 4. Os direitos entre marido e mulher são absolutamente iguais, no pensamento paulino num tempo em que as mulheres não tinham quaisquer direitos.
Há casamentos que fracassam porque um dos cônjuges nega ao outro o prazer do sexo. Em Corinto, havia o problema, agravado com a desculpa religiosa. O sexo era negado a pretexto de atrapalhar a comunhão com Deus ou o serviço no seu reino. Por isto, apóstolo vai direto ao assunto, dizendo que nenhum dos cônjuges tem direito sobre seus órgãos sexuais, que devem ser colocados ao prazer do outro. No caso de motivação religiosa, a restrição devia ser pouco tempo e de comum acordo. Há cônjuges que se sentem liberados para procurar outros corpos por não o ter em casa. A negação não justifica este comportamento, mas também nada justifica a negação. A falta de vida sexual ativa no casamento é um terreno fértil para a ação de Satanás (v. 5), que tenta para dividir, para ver um dos cônjuges cedendo seu corpo a outro. A recomendação é clara: não vos negueis um aos outro (v. 5)
O sexo não tem a ver apenas com a procriação, mas com o prazer. Esta visão procracionista, derivada do gnosticismo, é atacada pelo apóstolo, que sequer menciona filhos nesta seção.

3. O casamento é uma concessão, não um mandamento (v. 7). Isto é, não é obrigatório, embora seja desejável pela natureza humana.
Com isto, o apóstolo quer dizer também que sexo não é tudo. Há pessoas que podem viver sem sexo ou com baixa taxa de uso. Se marido e mulher têm intensidades diferentes devem concordar num ponto de equilíbrio, para que ambos sejam felizes, e não apenas um deles.
Se um deles é extremado, para o pouco ou para o muito, além de se entenderem, devem procurar ajuda profissional, em busca do ajuste sexual, para que o casamento possa perdurar.
Nos versos 29 a 31, o apóstolo relativiza a vida conjugal, como relativiza a alegria e o sofrimento. Com isto, ele quer dizer que todas as dimenseos de nossa vida devem ser experienciadas à luz do poder de Deus sobre nós. É Ele que nos dá o casamento e o celibato, o ter filhos e o não ter. Nossa cultura pansexualiza todos os relacionamentos, como se fora do sexo não houvesse vida.
Se alguém quer ser celibatário, deve consultar a Deus e decidir.
Nos versos 32 a 35 o apóstolo Paulo faz um elogio do celibato, mostrando a vantagem do solteiro no cuidado do Reino. Não há dúvida que quem não tem família dispõe de mais tempo para se dedicar à obra de Deus. No entanto, Paulo não coloca o celibato como condição indispensável e nem se coloca como padrão, embora ele mesmo estivesse solteiro naqueles tempos e conquanto ele provalmente tivesse sido casado. Deus não vocaciona as pesoas em função do seu estado civil. O celibato é um dom Deus, mas o casamento também.
O apóstolo não defende celibato como algo necessário. O celibato é anti-natural. Não pode ser imposto a ninguém. Paulo se fez celibatário para se dedicar exclusivamente à pregação do Evangelho. Paulo tinha o casamento em alta conta, ao ponto, por exemplo, de recomendar que os pastores sejam casados.
Se alguém pretende casar, deve consultar a Deus e decidir. Este é um assunto importante demais para ser decidido apenas por duas pessoas (os cônjuges). Deus precisa ser chamado para o centro dos corações para participar do processo decisório.
O pior erro de quem casa é não levar a sério o casamento. A facilidade das leis acerca do divórcio acaba funcionando como um salvo-conduto para decisões precipitadas. Se você está solteiro, na dúvida não case, mas arque com as conseqüências de sua decisão, entre as quais não dispor do corpo de quem não é seu cônjuge.
Separar-se é uma tragédia, diferentemente do que mostram os filmes e as novas. Este negócio de que “cada um foi para o seu canto” só perdura na ficção. Na vida real, separação é solidão, confusão, dor e angústia.

5. A propósito, nos versos 10 a 16 Paulo discorre sobre o divórcio, com algumas instruções também sobre o relacionamento entre um cônjuge cristão e um não cristão.
A separação mencionada nos versículos 10 e 11 se refere à separação ascética, cometida por um dos cônjuges para o fim de servir ao Senhor. Havia em Corinto, por causa da teologia equivocada sobre a sexualidade, quem achasse que devia se separar do seu cônjuge para servir melhor ao Senhor. Não era a famosa “incompatibilidade” de gênios que mais tarde faria a alegria dos advogados de família…, por justificar toda e qualquer separação, mesmo aquelas que jamais deveriam ter ocorrido. O apóstolo faz menção de separações motivadas por razões religiosas (v. 12). O princípio é claro: se um cristão tem um cônjuge incrédulo que concorda em viver regularmente a vida conjugal, o cristão não deve se separar.
Paulo não está fazendo um tratado acerca do divórcio, mas fica evidente que o apóstolo não o apóia. Este é o ideal bíblico e não temos como moldá-lo às nossas conveniências. A separação deve ser evitada.
Como Jesus (Mateus 19.9), Paulo tolera o divórcio no caso de porneia (prostituição, traição, adultério), se não for possível a reconciliação, e ainda em duas outras situações com conotação religiosa.
Paulo admite também a separação por razão de atuação religiosa, isto é, para que um dos cônjuges viva integralmente para o serviço do Reino de Deus. Neste caso, não deveria haver novo casamento, embora fosse admissível a reconciliação (isto é, volta ao estado conjugal).
O apóstolo admite ainda a separação quando a iniciativa for tomada pelo cônjuge incrédulo (v. 15). Neste caso, o cônjuge abandonado tem direito a novo casamento. No entanto, o cônjuge cristão não deve usar a incredulidade do parceiro para se separar dele, pois precisa pensar também nos filhos (vv. 14 e 16).
O princípio, portanto, é este: o divórcio não está nos planos de Deus, mas é tolerado em casos em que não haja, esgotadas todas as tentativas de conciliação e reconciliação, possibilidades de convivência saudável.

6. No contexto do divórcio, o apóstolo trata de um assunto que afligia os coríntios e, de resto, os cristãos ao longo da história: o casamento de um cônjuge cristão com um não cristão.
Pressuposto que o ideal é a união entre cristãos e pressuposto também que uma união entre cristãos não tem sucesso garantido, um casamento deste tipo pode ser um instrumento de salvação. Este é um problema que aflige a muitos jovens não casados e a cristãos já casados.
Paulo mostra que o casamento pode ser um instrumento para a salvação. No entanto, não pode um noivo entrar neste tipo de casamento contando que o seu par se converterá. Nem todos os noivos incrédulos se convertem depois que se casam. Alguns deles, que vinham à Igreja, quando namorados, nunca mais põem os pés numa. Quem entrar nessa deve saber dos riscos e depois não ficar cobrando de Deus uma conversão ou uma convivência melhor.
Embora não se possa ter a certeza de um bom resultado, o cônjuge crente deve santificar o outro, não só com seu comportamento moral, mas em seu relacionamento com Deus. Infelizmente há cônjuges cristãos que não vivem Deus em casa, embora até queiram trazer seus companheiros para a Igreja, à espera de um milagre. O milagre da conversão virá primeiramente quando Deus quiser e seu cônjuge O aceitar.
Você pode ser um instrumento para isto, desde que você o santifique, separando seu lar para Deus, por meio da oração. Ore todos os dias por seu cônjuge. Ore e espere. Conta-se a história de uma melhor que pediu ao seu pastor que orasse pela conversão do seu marido. Ele concordou, colocando uma condição: que ela orasse meia hora por dia pelo mesmo assunto. Sua resposta, foi:
— Ah! pastor, assim o senhor está pedindo demais!
Aquela mulher, na verdade, jogava para a platéia. Ela não achava a conversão do seu marido algo realmente importante.

7. No verso 9, o apóstolo Paulo sintetiza seus conselhos, recomendando, agora particularmente aos jovens, que casar é melhor do que abrasar-se, isto é, do que se deixar dominar ou se deixar consumir pelo desejo sexual.
Existe uma ética sexual para os jovens crentes e outra para os não crentes? Ou melhor: têm nossos jovens se comportado diferente dos não crentes? Muitos jovens crentes vivem (e não é fácil) segundo os padrões de Deus. Muitos jovens crentes não vivem.
Talvez fosse melhor aos expositores da Palavra de Deus esquecer o assunto. Seriam mais simpáticos, haveria menos culpa entre os seus ouvintes. No entanto, um expositor expõe, não inventa a Palavra.
Os textos bíblicos são claros: a atividade sexual deve ser desenvolvida no interior do casamento monogâmico. Não há o que se fazer para interpretar diferentemente, de modo mais cômodo, a Palavra divina.
É possível que o número de jovens cristãos fiéis a este princípio seja cada vez menor. Assim mesmo, o apóstolo Paulo tem que ser repetido.
Um jovem crente precisa controlar seus desejos sexuais. Nossa sociedade ensina que não, que os desejos devem ser atendidos, que não podem ser reprimidos. A Bíblia ensina que os impulsos devem ser controlados. O cristão precisa escolher a quem seguir, se a sociedade-sem-Deus ou ao Senhor da sociedade.

4. CONCLUSÃO
Há infelizmente cristãos que têm desvalorizado o casamento, achando-o tão-somente uma convenção humana, apenas para justificarem suas escolhas.
Há casais cristãos, com vidas sexuais ativas, em que um quer casar e outro se recusa a fazê-lo, por razões nem sempre defensáveis. Há casais cristãos em que um força o outro, até com ameaças, para a vida sexual ativa.
Há cristãos consumindo compulsivamente sexo virtual, por meio de fotos ou filmes, ou por meio de imagens ou conversas pela internet.
Há cônjuges desrespeitando seus companheiros, manchando seus próprios leitos. Há cônjuges se negando aos seus pares, empurrando-os para a clandestinidade. Há cônjuges fazendo muito pouco para viver em paz com suas metades.
As ofertas, teóricas e práticas, para o exercício da sexualidade fora dos padrões divinos, são inesgotáveis. O comércio do sexo gira bilhões de dólares por ano.
Não importa como gira o mundo, nós, cristãos, temos que girar de outro modo, nem que sejamos a minoria. O casamento é a porta de entrada para o sexo. Na vida sexual, Deus deve estar no centro das decisões, e Ele não está onde há mentira, engano e pecado.
Estes são os padrões bíblicos.
Se estamos vivendo neles, cuidemos para não cair. A fidelidade de hoje não garante a de amanhã.
Se estamos vivendo fora deles, não precisamos cultivar a culpa. Basta que nos disponhamos a voltar à ética da Palavra de Deus. O cristão é aquele não absolutiza o presente, tanto o bom presente, quanto o presente indesejável.
Sua decisão deve ser tomada entre você e Deus. Você sabe o que Ele quer. Deixe que ele controle sua vida, também na área da sexualidade.

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