DE VOLTA PARA CASA
Lucas 15.11-32
2004
Nesta parábola, podemos tomar o pai como o Pai celestial, mas também como um pai humano. Temos a aprender com o pai humano. No entanto, é a comunhão com o Pai celestial que nos dá vida.
Também podemos tomar os filhos, o mais velho e o mais novo, como paradigmas de nossas experiências. Somos, por vezes, o mais velho e o mais novo.
1. COMO AGE O PAI
Jesus continuou:
Um homem tinha dois filhos.
O mais novo disse ao seu pai:
— Pai, quero a minha parte da herança.
Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles.
A seguir, levantou-se e foi para seu pai. Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou.
O filho lhe disse:
— Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai disse aos seus servos:
— Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e alegrar. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado.
E começaram a festejar o seu regresso.
O filho mais velho encheu-se de ira, e não quis entrar [para participar da festa]. Então seu pai saiu e insistiu com ele.
Disse o pai:
— Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu. Mas nós tínhamos que celebrar a volta deste seu irmão e alegrar, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado.
RESPEITA AS DIFERENÇAS DOS FILHOS
As famílias subsistem porque há pais que respeitam as diferenças entre os filhos e deixam seus filhos escolher seus caminhos. Ele tinha dois filhos e não desejava que ambos fossem iguais nos seus desejos e atitudes. Mesmo a contragosto, repartiu a propriedade com os filhos.
Precisamos de pais que respeitem seus filhos. Não queira que seus filhos sejam como você ou com outros filhos, seus ou de outros.
Precisamos de filhos que respeitem seus pais. Não queira, por exemplo, ter pais como os dos seus colegas.
DESEJA A COMPANHIA DOS FILHOS
Os pais sempre esperam que seus filhos queiram a sua companhia. A partida de um deles é dor. Eles têm que partir, e os pais sabem disto. Não podem impedir. O projeto do pai era que os seus filhos, o mais novo inclusive, continuassem o seu negócio. Quando ele voltou, tal era o seu desejo de te de volta, que não lhe aplicou logo uma lição de moral (mesmo porque era dispensável, dada a lição da própria vida); apenas o abraçou (embora estivesse mal-vestido), beijou-o (embora estivesse fedendo), vestiu (embora tivesse antes boas roupas), honrou-o (embora não o merecesse mais), festejou com ele (como se tivesse renascido).
Precisamos de pais que desejam seus filhos por perto. Se estão presentes, valorizem. Se não estão distante, esperem por eles.
INSISTE COM OS FILHOS
Por vezes, os filhos partem antes da hora, mesmo em casa. No caso do filho mais novo, passam a viver de modo “irresponsável” (“dissoluto”), isto é, sem um projeto de vida a longo prazo, vivendo apenas o momento, seja ela qual for. No entanto, mesmo que isto aconteça os pais não devem desistir de seus filhos. O pai desta parábola estava esperando o filho voltar, ao ponto de o ver ainda ao longe, tudo por causa da sua compaixão (“amor”) para com ele.
Por vezes, os filhos não concordam com os gestos dos seus pais. No caso do filho mais velho, ele não concordou com a generosidade do pai para com o seu irmão. A atitude do mais velho era condenável. No entanto, o pai não o julgou, mas insistiu com ele para que entrasse na festa, dando as suas razões.
Diante da atitude irresponsável do filho mais novo, o pai não desistiu, recebendo-o de volta.
Não desista dos seus filhos ou de seus cônjuges ou de seus pais.
Diante da atitude egoísta do filho mais velho, o pai não desistiu, insistindo com ele para que mudasse de perspectiva. Insista com seus filhos para participar da vida familiar. Insista com seus pais para que não se cansem. Insista com seu cônjuge para seguir amando e demonstrando amor, tal como no dia do “sim”, não importa quanto tempo tenha ele sido proferido.
Precisamos de atitudes de pais em nossas famílias. Os nossos relacionamentos, dentro e fora da família, serão mais saudáveis se formos como pai desta história.
2. COMO AGE O FILHO MAIS VELHO
Jesus continuou:
Um homem tinha dois filhos.
Não muito tempo depois, o filho mais novo reuniu tudo o que tinha, e foi para uma região distante; e lá desperdiçou os seus bens vivendo irresponsavelmente.
Depois de ter gasto tudo, houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade. A seguir, levantou-se e foi para seu pai.
O pai disse aos seus servos:
— Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e alegrar.
Enquanto isso, o filho mais velho estava no campo. Quando se aproximou da casa, ouviu a música e a dança.
Então chamou um dos servos e perguntou o que estava acontecendo. Este lhe respondeu:
— Seu irmão voltou, e seu pai matou o novilho gordo, porque o recebeu de volta são e salvo.
O filho mais velho encheu-se de ira, e não quis entrar. Então seu pai saiu e insistiu com ele.
Mas ele respondeu ao seu pai:
— Olha! todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos. Mas quando volta para casa esse teu filho, que esbanjou os teus bens com as prostitutas, matas o novilho gordo para ele!
RESPONSÁVEL NA EXECUÇÃO DE SUAS TAREFAS
O filho mais velho era responsável e obediente. Era o filho que todo pai deseja: companheiro, responsável, aplicado, cumpridor dos seus deveres. No entanto, estas atitudes precisavam de uma outra: uma abertura para a vida, onde quer que ela esteja. Ele perdeu o sentido da vida, que está no trabalho, mas não é o trabalho. Preso aos seus padrões, Ele não perdeu o significado da volta do seu irmão. Achou o amor do seu pai exagerado.
Não perca as melhores coisas da vida, por causa das boas.
MOVIDO POR UM ALTO SENSO DE JUSTIÇA
O filho mais velho tinha um claro senso de justiça. A parábola não registra que tenha ficado indignado com a partilha da fazenda e com partida do irmão, mas descreve sua indignação quando o irmão mais novo é recebido com festa. Sua indignação se torna em ira. E ira não produz justiça, senão violência, contra si mesmo (amargura) e com o outro (vingança). Na vida familiar, raramente há lugar para a vingança, mas a amargura tem tirado filhos de casa e separados casais.
Não permita que seu senso de justiça destrua você e sua família. Não perca jamais a capacidade de se indignar, mas perca sempre a de se irar.
CENTRADO EM SI MESMO
O filho mais velho mostrou-se tão egoísta que o filho mais novo. Somos todos muito egoístas, embora sempre achemos que este defeito está no outro.
O filho mais velho podia até ter razão em reclamar que nunca recebeu uma festa para si. Mas aquele momento era do seu irmão. E ele devia se alegrar também.
3. COMO AGE O FILHO MAIS NOVO
Jesus continuou:
Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao seu pai:
— Pai, quero a minha parte da herança.
Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles. Não muito tempo depois, o filho mais novo reuniu tudo o que tinha, e foi para uma região distante; e lá desperdiçou os seus bens vivendo irresponsavelmente.
Depois de ter gasto tudo, houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade. Por isso foi empregar-se com um dos cidadãos daquela região, que o mandou para o seu campo a fim de cuidar de porcos. Ele desejava encher o estômago com as vagens de alfarrobeira que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada.
Caindo em si, ele disse:
— Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome! Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: “Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata como um dos teus empregados”.
A seguir, levantou-se e foi para seu pai. Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou. O filho lhe disse:
— Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai disse aos seus servos:
— Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e alegrar. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado’. E começaram a festejar o seu regresso.
TOMA A INICIATIVA DE SE AFASTAR, SEM PENSAR NAS CONSEQÜÊNCIAS.
Quando decidiu sair de casa, o filho mais novo pensa nos direitos (“quero a minha parte”), não nos riscos da liberdade.
Na vida familiar, tanto pais quanto filhos erram quando pensam apenas nos seus direitos. Uma casa feita de pessoas só com direitos é um inferno.
Ao chegar ao seu destino, o filho mais novo passa a viver apenas o hoje, o momento (por isto, “desperdiçou” tudo, como se não houvesse amanhã).
Há muitos pais e filhos que não têm projetos de longo prazo em suas vidas pessoais.
O filho mais novo se esquece que o homem não é capaz de enfrentar sozinho os reveses da vida. Ele tinha reunido tudo o que tinha, mas tudo o que tinha não era nada diante das dificuldades que o acometeram.
Há muitos pais e filhos que não querem depender um outro para uma vida saudável e este é um equívoco a ser evitado.
TOMA A INICIATIVA DE VOLTAR, DISPOSTO A PAGAR O PREÇO.
O filho mais novo também tem virtudes. Diante da experiência da escassez, o filho mais novo reflete sobre o que fizera. Ele não põe a culpa nos outros. “Ah, se meu pai não me tivesse deixado sair de casa! Ah, se meu irmão tivesse brigado comigo e impedido que eu viesse para o fim de mundo!”
ACEITA PARTICIPAR DA FESTA QUE SEU PAI CELEBRA
Quando o filho mais jovem volta, o pai promove uma festa fantástica. Em lugar de remoer em culpa pelo que fizera e se esconder num dos quartos da casa, ele entra no salão para a festa; em lugar de olhar para a sua indignidade e se perder apenas em lágrimas, o jovem aceita a oferta do seu pai, para uma nova vida. Ele, por exemplo, não quis o que não lhe pertencia; ele queria a vida e agora sabia onde a vida estava.
3. A VOLTA DE CADA UM DE NÓS
Há um sentido mais profundo nesta parábola, além dos ensinos sobre a vida familiar saudável.
Coloquemo-nos diante de Deus e vejamos o que estamos fazendo.
DEUS, PAI QUE NOS ESPERA
Esta parábola contém uma síntese acerca do coração de Deus.
Jesus continuou:
— Um homem tinha dois filhos.
O mais novo disse ao seu pai:
— Pai, quero a minha parte da herança.
Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles. Não muito tempo depois, o filho mais novo reuniu tudo o que tinha, e foi para uma região distante; e lá desperdiçou os seus bens vivendo irresponsavelmente.
Depois de ter gasto tudo, houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade. A seguir, levantou-se e foi para seu pai. Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou.
O pai disse aos seus servos:
— Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e alegrar. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado. Nós tínhamos que celebrar a volta deste seu irmão e alegrar, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado.
Deus nos ouve em nossos pedidos, mesmo que seja desquerê-lO (“pai, quero a minha parte da herança”). Muitos temos feito esta escolha, por Ele respeitada. Ele reparte conosco as nossas propriedades, essencialmente as nossas responsabilidades.
Ele nos deixa escolher nossos caminhos. Ele respeita a nossa liberdade. Se queremos viver longe dEle, Ele aceita. Ele não nos quer com Ele, se não queremos estar com Ele. Ele permite que desperdicemos a nossa vida na distância nele, na luta inútil. Ele permite que passemos necessidades. É da Sua natureza relacionar-se com pessoas livres.
Em nossa liberdade, nós nos afastamos de Deus. Em nossa liberdade, devemos escolher voltar para Ele. Sua presença é a nossa casa. Deus quer que voltemos para casa. Deus espere que voltemos para casa. Deus quer o melhor para nós (“a melhor roupa”, “um anel”, “calçados”) e o melhor para nós é a Sua presença. Deus tem prazer em nossa alegria. Deus tem prazer em nossa volta para Ele, a fonte de toda a alegria. Com Deus, a festa é possível. Não pensemos como o filho mais velho, que não via lugar para a festa.
PRECISAMOS VOLTAR
Tais como o filho mais novo da parábola, distante de Deus, vivemos o pior de nossas vidas. Talvez não o saibamos, por não termos ainda experimentado o melhor. Para Deus, estamos perdidos, sem rumo na vida, sem projeto para viver, sem propósito para nos orientar. Na verdade, estamos como mortos, porque não há esperança (mas muito desespero), não há luz (mas muitas trevas).
Tais como o filho mais novo, todos tomamos a iniciativa de nos afastar de Deus. Precisamos desta percepção. Deus não nos abandonou. Nós o abandonamos. Deus não nos expulsos de casa. Nós saímos voluntariamente. Não esqueçamos que fizemos nossas escolhas.
Tais como o filho mais novo, tomemos a iniciativa de voltar para Deus. Com ele, aprendemos que a vida saudável começa quando tomamos consciência do nosso pecado. Quando voltamos para casa, não importa o quão distante estejamos, Ele nos vê. Mesmo que estejamos cambaleando em Sua direção, Ele vem em nossa direção para fazer o caminho conosco, abraçar (gesto de saudade), beijar (gesto de afeto), segurar pela mão (gesto de apoio) e nos conduzir. Ele só espera a nossa decisão de voltar: o resto é com Ele. Ele nos encontra. Ele nos recebe, no que é diferente de nós. Na lógica humana, o filho mais novo não poderia ser recebido tão animadamente e nem merecia festa alguma. A lógica divina não considera o mérito humano, mas a disposição. Deus não considera a santidade humana, mas o desejo de ser santo; não considera a justiça humana, mas a busca por ela.
Tais como o filho mais novo, estejamos prontos para a festa, que começa quando entramos na casa do Pai, e nós entramos na casa do Pai quando voltamos para Ele. Este é um projeto para agora, que vai durar toda a eternidade.