João 6.66-69: RAZÕES PARA CRER

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Jesus teve muitos discípulos, alguns dos quais integravam seu círculo mais próximo. 
Eles seguiam a Jesus por muitas razões.
Alguns ficaram frustrados. Jesus não lhes correspondeu.
Eles queriam que Jesus lhes curasse e Jesus lhes curou, mas não curou a todos.
Eles queriam que Jesus lhes desse comida e Jesus lhes deu alimento, mas a fome voltava.
Eles queriam que Jesus lutasse contra a exploração política feita pelo Império Romano e Jesus lutou, mas de um modo que não conseguiram perceber.
Ser discípulo de Jesus não era ser discípulo de um tipo comum de mestre, daquele que ensina lindas verdades sobre a vida, verdades que se vão quando o mestre vai e é substituído por outro. Ser discípulo de Jesus tinha um preço. Quando alguns perceberam, decidiram deixar de seguir a Jesus. Eles queriam algumas coisas que Jesus oferecia, tanto o seu poder, tanto o seu amor, mas eles não queriam Jesus, eles não queriam viver como Jesus vivia.
Quando alguns discípulos do círculo maior resolveram fechar os seus ouvidos para as palavras de Deus, bateu uma incerteza entre os seguidores mais próximos. Talvez algumas perguntassem: o que será feito de nós, quando as multidões não mais seguirem nosso mestre? O insucesso que se prenunciava, com a fuga em massa de discípulos, começou a deixar tristes os 12 amigos de Jesus. É por isto que Ele pergunta, numa indagação que perpassa os séculos nos corações crentes:
— Vocês também não querem ir?
 
A cena se passa hoje ainda.
Quantos procuram a Jesus para dormirem melhor a noite, libertos de sua insônia. 
Quantos procuram a Jesus para ficarem curados de seu vício, sejam a droga, o álcool, o cigarro, a pornografia, a gula.
Quantos procuram a Jesus para terem restaurados os seus casamentos.
Quantos procuram a Jesus para darem adeus à depressão.
Quantos procuram a Jesus para serem curados de suas doenças, algumas graves.
Quantos procuram a Jesus para terem seus amores de volta.
Quantos procuram a Jesus para terem enxugadas suas lágrimas pela partida de um parente muito amado.
Quantos procuram a Jesus para melhorarem de vida (leia-se, para terem mais dinheiro).
Quantos procuram a Jesus para terem uma velhice mais tranqüila.
Quantos procuram a Jesus para terem resolvidos os seus problemas.
Quantos procuram a Jesus para terem garantido seu passaporte para o céu.
 
Mas todos conhecemos seguidores de Jesus que têm dificuldade para dormir; por isto, até usam remédios que lhes fazem pesar as pálpebras de noite.
Todos conhecemos discípulos de Jesus que continuam lutando, vencendo, perdendo, vencendo, perdendo sua luta contra o vício.
Todos conhecemos cristãos sinceros cujos casamentos acabam.
Todos conhecemos mulheres e homem de oração dos quais a depressão é companheira constante.
Todos conhecemos pessoas tementes a Deus que são dilaceradas por doenças, algumas sem cura.
Todos conhecemos filhos e filhas de Deus que vivam solitários.
Todos conhecemos pessoas salvas pela graça de Jesus mas que choram a vida toda a perda de pessoas pelas quais eram apaixonadas e nada lhes traz de volta a alegria de viver.
Todos conhecemos santos que não têm nada, materialmente falando e alguns até vivem de favores dos outros.
Todos conhecemos idosos com velhices amargas.
Todos conhecemos cristãos cujas vidas estão mergulhadas em problemas.
Todos conhecemos cristãos cheios de dúvidas, até mesmo sobre a sua salvação.
 
Essas pessoas, sinceras na sua fé, sofridas na vida, desmentem os pregadores que prometem o céu na terra, promessa que Jesus não fez.
 
A BUSCA POR JESUS
Alguns se aproximaram dEle em busca disso. Então Jesus lhes apresenta o seu programa de vida.
O capítulo 6 de João nos oferece um guia para a leitura deste programa.
Primeiro (João 6.1-15), Jesus resolve o problema da fome, ao transformar cinco pães de cevada e dois peixinhos em comida suficiente para alimentar uma multidão de cinco mil homens Jesus supre todas as necessidades humanas (“O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” — Filipenses 4.19), inclusive a de comida, mesmo sabendo que a fome voltará depois de ser saciada.
Depois (João 6.16-21), Jesus anda literalmente sobre o mar como se andasse sobre as areias de uma praia, mostrando aos discípulos que é Senhor. Sim, Ele é o Verbo (logos, Palavra), que participou da obra de criação do mundo e agora está empenhado na obra de redenção (recriação) do mundo (João 1.1-3).
A seguir (João 6.31-40), procurado por curiosos diante do seu poder (manifesto na multiplicação dos pães e peixes e na caminhada sobre as águas), Jesus ensina-lhes: Não  trabalhem pela comida que se estraga, mas, antes, busquem a comida que permanece para a vida eterna, a qual lhes pode dar Ele mesmo, Ele em quem Deus Pai colocou o selo de aprovação (verso 27). 
Após esta declaração cheia da plenitude de Deus, surge um questionamento sobre a sua divindade (João 6.41-58). Jesus sempre foi e sempre será questionado pois o que Ele fala só um coração apaixonado pode entender. Neste contexto, Jesus se apresenta como o pão da vida (verso 48), pão que veio do céu (versos 51 e 58) para dar vida ao mundo, afirmando com todas as letras: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede” (verso 35). Comer este pão é receber a vida eterna, que é oferecida a todo aquele que olhar para Jesus como Deus Senhor e Salvador (verso 40).
Em lugar de se animarem, os discípulos (distantes e próximos) ficaram preocupados (João 6.59-71). Alguns, dentre os distantes, debandaram. Então, Jesus pergunta aos 12 do círculo íntimo: “Vocês também não querem ir?” (verso 67).
 
DIVORCIANDO-NOS DOS PECADOS
Seguir a Jesus é uma decisão livre. Não seguir a Jesus é também uma decisão livre.
Ele manda o convite para a festa e pede confirmação da presença. Ninguém é obrigado a ir.
No seu convite, não há esforço de marketing. Não há palavras para seduzir, nem palavras para enganar. Ele convida para a vida, mas esta vida vem depois da morte. A vida para a qual convida custou o preço da vida dEle, quando morreu na cruz. A vida para a qual convida custa a nossa vida, a vida dominada pelos pecados. O convite de Jesus demanda renúncia da velha vida a serviço dos pecados. Nós nos casamos com os pecados e precisamos nos divorciar dele (na bela expressão do poeta setecentista John Donne). Este divórcio vem pelo arrependimento. Quando nos arrependemos de nossos pecados, nós nos separamos dos nossos pecados. Não é fácil nos divorciarmos de quem nós amamos e nós amamos pecar.
Esta foi a luta dos contemporâneos de Jesus. Eles queriam ver os sinais de Jesus, mas não queriam se converter a Jesus. Eles queriam o que Jesus poderia dar, mas não queriam Jesus. Eles queriam uma amizade de conveniência. Não queriam uma amizade verdadeira. Dentre o que Jesus oferecia (pão, cura e salvação), queriam apenas pão e cura, que é um oferecimento que não tem preço. Não queriam a salvação, que tem um preço: arrepender-se dos pecados e crer em Jesus como aquele que doa a vida eterna.
Essa é a luta de muitas pessoas hoje. Querem tudo que Jesus pode oferecer (ah! e como Ele é generoso!), mas não querem o que permanece por toda a eternidade: o próprio Jesus como Senhor e Salvador.
“Vocês também não querem ir?” — Como seguir a Jesus não é fácil, muitos que um dia decidiram segui-lo O abandonam. Muitos têm respondido “sim” a esta dramática indagação. Por que?
 
Entre os que se foram estão os feridos pela igreja, a qual confundiram com Jesus. 
Entre os que se foram estão os vencidos pelos desejos, cuja satisfação requer também exclusividade. Num tempo, coxearam entre os desejos, mas depois fizeram a sua escolha e abandonaram Jesus.
Entre os que se foram estão os que seguiram a Jesus apenas por interesse. Uma vez atendidos (uma vez tendo sua oração respondida, uma vez tendo alcançado a bênção buscada), abandonaram Jesus.
Entre os que se foram estão os que se enganaram a si mesmos, nunca tendo de fato tomado a cruz de Cristo para o acompanhar.
 
PARA QUEM IREMOS NÓS?
A pergunta, portanto, nos põe no centro de uma das mais apaixonadas declarações sobre Jesus, vinda esta da boca de Pedro, o mesmo Pedro que já havia feito outra afirmativa sublime: Jesus, “tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16.16. cf. Marcos 8.29). Agora, quando Jesus pergunta se os 12 também O querem deixar, Pedro canta:
 
“Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna” (verso 68). 
 
“Para quem iremos”. Que majestosa afirmação em forma de pergunta!
Pedro não pergunta: “Para onde iremos nós?”. Ele pergunta: “Para quem?”
Pedro sabe que a religião é um relacionamento entre pessoas, entre nós e Deus.
“Para quem?” quer dizer também: “Com quem?”
Com quem viveremos a nossa vida?
Com quem viveremos, quando tudo estiver bem?
Com quem viveremos, quando as coisas estiveram difíceis. Com que amigos poderemos contar?
Quem tem real interesse por nós, mesmo quanto o nosso amor não é tão puro?
Pedro sabe a resposta: Jesus Cristo, aquele que tem palavras de vida eterna!
Pedro examinou as alternativas e concluiu: só Jesus tem palavras de vida eterna.
 
PALAVRAS DE VIDA ETERNA
Ouvimos muitas palavras. Palavras de amigos. Palavras de políticos. Palavras de parentes. Palavras de sábios. Nós sabemos quanto elas valem e quanto elas duram. Todas passam, por mais bonitas e profundas que sejam. 
No entanto, as palavras de Jesus permanecem porque foi Ele quem as disse. Pedro O chama de “Santo de Deus”, isto é, aquele que jamais pecou, aquele que pecou mas ressuscitou, aquele que viveu um dia entre nós e continua vivo entre nós.
As palavras de Jesus permanecem porque nos completam. As palavras de Jesus são incomparáveis, porque Jesus é incomparável.
Quem pode dizer palavras como estas, palavras de vida eterna?
 
. “Quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna”. (João 4.14)
 
. “Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei”. (João 6.37)
 
. “Eu sou o pão da vida”. (João 6.48)
 
. “O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida”. (João 6.63)
 
. “Eu testemunho acerca de mim mesmo; a minha outra testemunha é o Pai, que me enviou”. (João 8.18)
 
. “Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!” (João 8.58)
 
. “Eu sou a porta; quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem”. (João 10.9)
 
. “O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente”. (João 10.10)
 
.  “Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão”. (João 10.28)
 
. “Eu e o Pai somos um”. (João 10.30)
 
. “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”. (João 12.46)
 
. “Você não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu lhes digo não são apenas minhas. Ao contrário, o Pai, que vive em mim, está realizando a sua obra”. (João 14.10)
 
. “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele”. (João 14.21)
 
. “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma”. (João 15.5)
 
. “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido”. (João 15.15)
 
(Como escreveu um autor), “em Cristo, temos um amor que jamais será compreendido, uma vida que jamais morrerá, uma justiça que jamais será manchada, uma paz que jamais será entendida, um descanso que jamais será perturbado, uma alegria que jamais será diminuída, uma esperança que jamais será desapontada, uma glória que jamais será escurecida, uma luz que jamais será obscurecida; uma felicidade que jamais será interrompida, uma força que jamais será enfraquecida, uma pureza que jamais será contaminada, uma beleza que jamais será desfigurada, uma sabedoria que jamais será confundida e recursos que jamais serão esgotados”. (RAY STEDMAN — STEDMAN, Ray. To Whom shall We Go? Disponível em
 
Não há alternativa a Jesus.
Um escritor bíblico resumiu: “Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho” Jesus Cristo. (1João 5.11)
O que é a vida eterna? A Bíblia mesma o diz, referindo-se ao próprio Deus: “Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. (João 17.3)
Em sua declaração corajosa, Pedro diz: nós “cremos e sabemos” (João 6.69). Outro escritor acrescentou: “A vida se manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada. (1João 1.2)
 
Diante destas palavras, recebidas como palavras de vida eterna, as legítimas preocupações da vida são revistas e reelaboradas. Por sua soberania, sabedoria e misericórdia, Deus poderá libertar da insônia (e nós sabemos que ele liberta), livrar de um vício (e nós sabemos que ele livra), restaurar um casamento (e nós sabemos que ele restaura), encerrar uma depressão (e nós sabemos que ele levanta os deprimidos), curar uma enfermidade grave (e nós sabemos que ele cura), reatar relacionamentos afetivos (e nós sabemos que ele reata), confortar os enlutados (e nós sabemos que ele conforta), melhorar as condições materiais de vidas (e nós sabemos que ele dignifica o ser humano), cuidar dos idosos (e nós sabemos que ele cuida), resolver problemas humanamente insolúveis (e nós sabemos que ele resolve) e escrever nomes no livro da vida eterna (e nós sabemos que sua caneta está à mão diante do Livro da vida).
 
No entanto, sabemos que as palavras de vida eterna incluem estas coisas, mas não se limitam a elas, porque vida eterna é muito mais do que isto. Ela é uma vida de confiança e esperança em Deus aqui e agora, e também no futuro.
 
O QUE ESTAMOS FAZENDO COM AS PALAVRAS DE VIDA ETERNA?
O que estamos fazendo com as palavras de vida eterna?
O que estamos fazendo como Aquele que tem palavras de vida eterna?
 
Ouçamos a seguinte história, para aplicá-la aos dias de hoje:
 
“O grande escritor russo Nicholas Arseniew (…) contou a história do camarada Lunatscharsky. Estava palestrando no maior auditório de Moscou logo após a revolução bolchevique. Seu tema: “Religião: o ópio do povo”. Assim discursou: “Todos os mistérios cristão são lendas inventadas; a ciência marxista é a luz que mais do que substitui as fábulas do cristianismo”. Proferiu um longo discurso. Ao terminar, estava tão satisfeito consigo mesmo que perguntou, com gestos bem expansivos, se alguém no auditório gostaria de fazer uma pergunta ou dizer alguma coisa.
Um jovem sacerdote russo ortodoxo deu um passo adiante. Primeiramente ele se desculpou ao comissário por sua ignorância e inépcia. O comissário olhou para ele desdenhosamente:
— Eu lhe darei dois minutos, nada mais que isso – ele bufou.
— Não tomarei muito tempo — o sacerdote garantiu. Subiu à plataforma, voltou-se para a platéia e em alta voz declarou:
— Cristo ressuscitou!
Numa só voz, a vasta platéia vociferou em resposta:
— Ele realmente ressuscitou!
Que essa resposta hoje encontre eco em seu coração e no meu, porque a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos é a fonte, a razão, a base da alegria indizível de nosso viver cristão. Cristo ressuscitou, aleluia! Um dia sua glória brilhará em nós”. (MANNING, Brennan. Convite à solitude. São Paulo: Mundo Cristão, 2010, p. 164-165)
 
Os comunistas não mataram Jesus.
E quanto a nós?
Quanto a nós, parece que muitos cristãos O estão matando. Também precisamos gritar
— Cristo ressuscitou!
Jesus ressurreto precisa ser cantado em nossos lábios.
Jesus ressurreto precisa estar estampado em nossos rostos.
Se a perdemos, precisamos de uma nova paixão por Jesus Cristo.
Perdemos muito tempo com estratégias, defesas, fofocas e disputas (nas quais nós mesmos brilhamos), porque nos falta o fogo da paixão por Jesus.
Deixamos que nossas vidas se seduzam por produtos e serviços (que parecem nos fazer felizes) porque nos falta amor por Jesus, o único cujas bênçãos tem valor eterno.
Que a nossa decisão seja seguir a Jesus. Seguir a Jesus é amar a Jesus, mesmo sabendo que nosso amor por Ele é somente uma sombra do amor dEle para conosco, uma sombra de tudo que haverá de ser quando nos encontrarmos face a face” (nos dizeres de Carey Landry. Citado por MANNING, Brennan. Convite à solitude. São Paulo: Mundo Cristão, 2010, p.66.)
 
O que estamos falando sobre Jesus?
O que estamos fazendo de Jesus?
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO