CHORO E RANGER DE DENTES (Sylvio Macri)

O Grande Julgamento ou Juízo Final é um assunto que praticamente sumiu dos púlpitos evangélicos nos dias atuais, mesmo a sua simples menção. Nos cânticos e orações que ouvimos na liturgia evangélica contemporânea, esse é um tema esquecido. Predomina em nosso meio uma modalidade de evangelho de bem estar, daquilo que os crentes podem ter aqui e agora. Assim, falar de julgamento parece fora de lugar e de propósito.

Entretanto, esse assunto está presente em toda a Bíblia. Só no Novo testamento são dezenas de ocorrências, principalmente na boca de Jesus. Por exemplo, a expressão “choro e ranger de dentes” aparece sete vezes na Bíblia, mais exatamente no Novo Testamento , todas elas proferidas por Jesus, sempre descrevendo a condição dos maus na vida futura (Mt.8.12; 13.42,50; 22.13; 24.51; 25.30; Lc.13.28).

A expressão “ranger de dentes” aparece no Salmo 112. O salmista diz que, ao ver a felicidade daqueles que temem ao Senhor, o ímpio “fica com raiva, range os dentes e se consome” (Sl.112.10). Jesus, porém, ao associar o choro com o ranger de dentes, falou, não de ira, mas de remorso associado com julgamento, de dor e frustração por uma condenação não esperada. A pessoa chora e range os dentes em virtude de um sofrimento intenso, de um grande tormento.

Trata-se, evidentemente, de um uso figurado, mas que descreve perfeitamente a situação dos ímpios após o Juízo Final, como se pode ver no contexto das passagens acima referidas. O lugar onde os ímpios “chorarão e rangerão os dentes” são as “trevas exteriores”, o “lado de fora”, a “fornalha acesa”, o mesmo lugar em que os hipócritas serão castigados. É a “condenação do inferno” (Mt.23.33) ou o “castigo eterno” (Mt.25.46) a que Jesus se referiu. Lembra-nos a parábola do Rico e Lázaro (Lc.16-19-31). O Apocalipse descreve esse lugar como “o lago de fogo e enxofre” onde os condenados “serão atormentados de dia e de noite, para todo o sempre” (Ap.20.10). Figuras fortíssimas.

Mas, quem são esses condenados? O contexto nos informa que são os que pensam ser verdadeiros “filhos do Reino”, mas não são; “os que servem de pedra de tropeço e os que praticam o mal”; os que tentam entrar na festa de casamento do filho do rei sem “veste nupcial”; o “servo mau”; o “servo inútil”; os falsos seguidores, que comem e bebem com o senhor e ouvem publicamente seus ensinos. Note-se que em todas essas expressões Jesus está se referindo a pessoas que pensam que, por serem religiosas, não sofrerão nenhuma condenação. Trata-se de uma forte advertência a todos os que seguem a Jesus para examinar a si mesmos, e checar se não se incluem entre esses condenados.

Em tempos de religiosidade triunfante, quando cantamos que nada nos abalará, é bom lembrar o que disse o apóstolo Tiago, irmão de Jesus: “Limpem as mãos, pecadores! E vocês que são indecisos, purifiquem o coração. Reconheçam a sua miséria, lamentem e chorem. Que o riso de vocês se transforme em pranto, e que a alegria de vocês se transforme em tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará.” (Tg.4.8b-10). É melhor chorar antes e se arrepender, do que chorar depois, e ser tarde demais.

Pr. Sylvio Macri                  

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