Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 21.2.1999 – manhã
1. INTRODUÇÃO
1.1. É difícil falar-se em contribuição financeira num tempo de dinheiro escasso (inclusive com a diminuição do PIB e consequentemente da renda per capita dos brasileiros) e de práticas pouco recomendáveis em outras igrejas.
1.2. O apóstolo Paulo fala do assunto sempre com referência ao fato de que não era “pesado” às igrejas. Neste caso, ele pede aos corintos que contribuíssem não para seu ministério mas para suprir as necessidades dos cristãos de Jerusalém. [História]
1.3. Dessa história podemos depreender valiosíssimas lições sobre a nossa relação com o dinheiro. Afinal, nossa espiritualidade tem a ver com o lugar que o dinheiro ocupa em nossas vidas.
2. CONTRIBUIR É UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA
A contribuição dos corintos para Jerusalém era uma questão de justiça. A comunidade de Jerusalém estava necessitada, ela que um dia suprira espiritualmente as igrejas da Ásia.
2.1. A igreja é a organização planejada por Deus para o anúncio do seu Reino ao mundo.
A contribuição de hoje é o método de Deus para a obra da proclamação do seu amor ao mundo, expressa por meio da pregação, da adoração e da ação social.
Sem as contribuições fiéis dos seus membros, a igreja não pode fazer nada. A nossa poderia fazer mais, se mais fossem as contribuições. Dos nossos 954 membros, em média apenas 300 contribuem regularmente.
Fala-se muito em solidariedade, palavra que os cristãos têm colocado em prática há muito tempo. No caso específico dos batistas, o dinheiro arrecadado nas igrejas para sustentar seu ministério no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo, ministério este desenvolvido por meio da pregação, da denúncia pública de desvios dos Estados e das sociedades e produção de ações concretas visando a superação dos problemas sociais. Assim, por exemplo, o dinheiro aqui depositado transforma-se, por exemplo, em remuneração para os ministros e missionários, em cestas básicas, em Bíblias e em tendas de esperança. O dinheiro aqui entregue transforma-se em gestos de concreta solidariedade.
A propósito, o emprego do dinheiro é auditado periodicamente e um relatório das receitas e despesas é afixado publicamente no quadro do térreo deste templo; qualquer pessoa pode saber como é usado o dinheiro de sua contribuição. A transparência é total. O destino dos recursos é discutido publicamente e aprovado por maioria.
2.2. Numa outra dimensão dessa justiça, a contribuição é uma espécie de expressão de gratidão pelo que Deus faz por nós.
Em Jesus, ele se fez pobre para que nós fôssemos espiritualmente ricos (8.9). O apóstolo diz que não contribuímos apenas para suprir necessidades, mas também como forma de ação de graças pelo que Deus nos fez e faz (9.12). Contribuir é adorar.
Não se trata de um pagamento em troca. O salmista (Sl 116.12) diz que não temos como retribuir ao Senhor pelos benefícios que nos tem trazido. Trata-se então e tão-somente de um gesto de ação de graças pelo que nos tem feito. Certamente, quem não oferece nada é porque não recebeu nada.
Não se trata de um obrigação que se cumpre como um fardo, mas como um privilégio (8.4).
Como vai a sua fidelidade, em termos de regularidade e de percentual da sua remuneração? É algo expressivo ou apenas sobra? Expressa sua gratidão para com Deus? É o bastante para permitir que a igreja faça a obra de Deus no mundo?
3. CONTRIBUIR É UMA QUESTÃO DE SABEDORIA
A contribuição dos corintos para Jerusalém demonstraria a aprendizagem de uma lição.
Para o homem secular, a contribuição regular e sistemática, a que chamamos de dízimo, é um escândalo. O homem secular acha que todos os dizimistas são uns pobres-coitados explorados pelos pastores das igrejas. A matemática deles é simples: como pode um assalariado tirar 10% de seus rendimentos mensais para entregar para a igreja?
É possível que alguns aqui façam coro com estes críticos, críticos que não entendem que é sábio ser dizimista. Por isto, afora os aspectos doutrinários em relação ao dízimo, quero falar de uma outra faceta.
Quem contribui regularmente está mostrando que põe em primeiro Aquele que deve estar em primeiro lugar. Efetivamente, ele busca em primeiro lugar o Reino de Deus. Mais ainda: esta pessoa sabe organizar a sua vida. Ela sabe que o dinheiro não pode ser o primaz da vida de ninguém. Quem faz assim é capaz de ser solidário e de viver plenamente. Contribuir é compartilhar.
Não somos abençoados porque fizemos um contrato com Deus, mas porque: aprendemos a viver, aprendemos a gastar nosso dinheiro no essencial, aprendemos a despositar nossa confiança em Deus. É por isto que o salmista diz que quem contribui liberalmente se torna mais rico (Pv 11.24). Dar é como semear (9.10).
A avareza não é inteligência. Antes, é uma idolatria. Ela pode nos levar ao erro sobre o erro. Por isto o apóstolo Paulo nos adverte para as armadilhas que o amor ao dinheiro pode nos preparar (1Tm 6.9-10). Pode parecer absurda a ilustração que aparece no livro-filme “O Advogado do Diabo”, de Andrew Neiderman. O jovem advogado se dispôs a negar todos os valores para se enriquecer.
4. CONTRIBUIR É UMA QUESTÃO DE OBEDIÊNCIA
A contribuição dos corintos para Jerusalém era o resultado de uma vida de obediência.
Ao contribuir, seguimos o exemplo de Jesus. Ele, sendo rico, se fez pobre, ao doar sua própria vida (8.9). Nossa generosidade decorre da generosidade excelente de Jesus.
A riqueza prometida por Deus não é de dinheiro, mas de riqueza de amor, de amizades, de intimidade com Deus.
Por isto, contribui aquele que primeiramente se dá ao Senhor (8.5). É parte de um processo de santificação. Deus quer a nós, não o nosso dinheiro.
A contribuição não deve ser motivada pela desejo da multiplicação própria. Certamente, Deus multiplicará a contribuição, ao fazê-la circular pelo mundo. Pode ser até que Deus devolva multiplicadamente aquilo que lhe foi doado. No entanto, pode ser que Deus não multiplique os bens daqueles que lhe retribuíram com algo. Como esta não é a motivação, a fidelidade continuará.
A multiplicação não é de bens, mas de boa obra, de frutos espirituais. A riqueza prometida por Deus não é de dinheiro, mas de riqueza, amor, amizade e intimidade com Deus (9.8).
5. CONCLUSÃO
A contribuição deve ser conforme uma proposta própria, que implica em disciplina e mesmo em planejamento mas implica principalmente em contribuição com alegria. É algo pessoal: entre nós e Deus.
Precisamos transformar nosso desejo de contribuir em efetiva contribuição (8.11).
A maioria dos membros das igrejas batistas é dizimista no desejo, conquanto não o seja no plano da prática.
A contribuição é uma prova de nossa confiança em Deus. Como Ele é capaz de atender nossas necessidades, não precisamos ter medo de contribuir, segundo o que temos, não segundo o que não temos (9.8-11).