CONVITE À CO-HUMANIDADE
Marcos 10.46-52
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em dia 25.12.2004
Estamos diante de Bartimeu, um homem em toda a sua humanidade.
1. O QUE APRENDEMOS COM BARTIMEU
1.1. Bartimeu, um homem persistente, embora não tivesse uma boa teologia. Por duas vezes, ele pede por misericórdia. (“Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”). Jesus não era apenas o “filho de Davi”, isto é, aquele redimiria Israel do jugo romano. Era o filho de Deus, vindo para libertar o homem integralmente de suas prisões. Por sua persistência, não se deixou deter; não se deixou desanimar.
É assim que devemos proceder. Mesmo que não oremos “corretamente”, oremos. Mesmo que não busquemos “corretamente”, busquemos. A falta de ALGO não nos deve incapacitar para TUDO. Não nos deixemos deter pelos pessimistas, pelos desencorajadores profissionais, pelos mestres do “não adianta, você não conseguirá”.
Não devemos impedir os que querem se aproximar de Jesus. Precisamos revisar nossas atitudes para com crianças, adolescentes e jovens. Os demais precisamos revisar nossas atitudes para com os idosos. Os que não são como nós somos precisam de nossa paciência, de nossa cooperação, para que também se encontrem com Jesus.
Os contemporâneos de Jesus aprenderam com a atitude de Jesus. Entendendo o coração de Jesus, dispuseram-se a atender o Seu pedido e facilitaram a chegada do cego. De desanimadores, tornaram-se encorajadores. Os que se encontram à beira do caminho precisam ser animados para irem ao encontro de Jesus.
1.2. Bartimeu, um homem sem visão física, tinha a visão essencial: a fé. Bartimeu estava sentado à beira do caminho; era um esmoler, que tinha ali talvez há muitos anos o seu ponto.
Sua capa cumpria duas funções, uma pessoal e outra social.
Pessoalmente, aquela capa era seu único bem e o protegia da chuva e da poeira. Quando vislumbrou o bem maior da vida, Jesus Cristo, Bartimeu jogou fora a sua capa. Ele não se agarrou àquela capa, quando ela o impedia de correr mais rápido para o encontro com Jesus. Pela fé, viu que não precisava mais daquela capa, porque Jesus o chamava. Sem Jesus, precisaria que as pessoas lançassem moedas nos seus bolsos; com Jesus, não seria mais um mendigo.
Socialmente, a capa era uma veste que um cego precisava usar sobre a sua cabeça para cobrir sua cegueira. Os judeus achavam que a doença era conseqüência do pecado, da vítima ou de seus ancestrais, devendo, portanto, ser escondida, por vergonhosa. Pela fé, sentiu que não estava mais condenado. Com Jesus, não precisaria esconder seu rosto de ninguém.
“E assim, apesar do desencorajamento da multidão, Bartimeu chegou a conclusão que estava qualificado para ser ajudado por Jesus. Provavelmente, ele pensou assim: Jesus cura os enfermos, e eu sou um enfermo; Ele cura os cegos, e eu sou um cego; Ele salva os pecadores e eu sou um pecador; Ele encontra os perdidos, e eu sou um perdido; Ele ajuda os pobres, e eu sou um pobre; Ele alimenta os famintos, e eu sou um faminto; Ele justifica os ímpios, e eu sou um ímpio; Ele levanta os mortos, e eu morto em delitos e pecados; Ele redime os escravos do pecado e eu sou um escravo do pecado. Eu estou qualificado. Eu não serei impedido por ninguém”. [MATHEW, P. G. Faith That Stops Jesus. Disponível em <http://www.gracevalley.org/sermon_trans/Faith_Stops_Jesus.html>. Acessado em 24.12.2004.]
Se algo nos impedido de ir a Deus, livremo-nos disto, em busca do Bem Maior.
1.3. Bartimeu, um homem à margem do caminho, demonstrou sua gratidão por ter sido resgatado, tornando-se um seguidor de Jesus. Sua disposição antecedeu ao milagre, quando jogou fora a capa.
O milagre tem afastado muita gente de Jesus. Muitos buscam o milagre de Jesus, mas não o Jesus do milagre. Bartimeu poderia ter apenas passado a ver, que já seria algo imenso. No entanto, ele recebeu mais: recebeu a salvação, que o capacitava a se tornar um seguidor de Jesus. Quem não é seguidor deve tornar-se um seguidor de Jesus e ir parecendo, dia a dia, com Jesus. O seguidor não é o que sabe sobre Jesus, mas o que reproduz seu caráter.
2. O QUE APRENDEMOS COM JESUS
Estamos diante de Jesus, o Deus que nos ensina a ser humanos.
O maior ensino de Jesus ao homem é ensinar o homem a ser humano.
2.1. Como o sacerdote e o levita da parábola, Jesus estava indo para a festa da Páscoa em Jerusalém. Tinha muito ainda para caminhar. Seus “assessores” informais achavam que não podia perder tempo. Mal tinha entrado em Jericó, tinham que atravessar a cidade e caminhar mais 27 km até Jerusalém, onde a Páscoa o aguardava.
Quando Bartimeu o encontra, Jesus estava saindo da cidade de Jericó. Talvez tivesse completado o seu trabalho em Jericó. Talvez estivesse cansado. Então, Bartimeu descobre que Jesus é aquele que pára diante das pessoas necessitadas, não importa a carência. Jesus não passa ao largo de nossas necessidades.
Estamos diante da primeira marca que Jesus quer imprimir em nós: a bondade. Porque era bom, Jesus prestou atenção em Bartimeu. Bom é quem olha para si como alguém capaz de ver o outro. Precisamos ver os outros. Precisamos ouvir os outros. Precisamos perceber a miséria do outro e nos importar. Jesus quer que sejamos como Ele: bons, não indiferentes ao sofrimento alheio. Jesus quer que sejamos como Ele: bons, não ocupados demais para servir. Jesus quer que sejamos como Ele: bons, não apenas santos.
2.2. Depois que ouve Bartimeu, Jesus para e procura encontrá-lo. Seu coração está motivado por um desejo: estender a mão àquele homem, que gritava por ele. Jerusalém, para onde ia, ficou em segundo plano. Aquele desconhecido estava agora em primeiro plano.
A mão estendida é e o gesto que marca a generosidade. Ser generoso é olhar a diferença como igualdade, como pertencendo ao mesmo gênero, o gênero humano. Somos todos iguais. Jesus é aquele que nos chama para um encontro com Ele. A maior expressão da generosidade é a tolerância contra os que não se portam corretamente, contra os que não crêem corretamente.
2.3. Nesta história, aprendemos que Jesus é aquele que quer nos ouvir. Jesus é aquele que nos restaura de modo completo. Quando o Senhor diz a Bartimeu “a sua fé o curou”, Ele diz: “a sua fé o tornou inteiro”. Bartimeu foi alcançado pela solidariedade (o ato de tornar algo sólido). Não foi apenas curado; foi também salvo. Não apenas salvo; foi também curado.
CONCLUSÃO
Seja humano como Bartimeu: persista; não se conforme, não importa quanto tempo dure a sua dor. Jesus não nasceu para que ficamos afundados na dor. Os anjos não cantaram para que fiquemos na terra, porque o seu canto nos enleva.
Seja humano como Bartimeu: dê um salto, largue a sua capa e saia da beira da caminho, para vir para o centro da estrada. Saia da periferia de Jericó; vá para o centro de Jerusalém. Grite por Jesus e afaste o desânimo que tem impedido você de enxergar o que Jesus quer que você veja.
Seja humano como Jesus: busque ser bom, começando por uma pessoa. O mundo será diferente..
Seja humano como Jesus: busque ser generoso.
Seja humano como Jesus: busque ser solidário.