JESUS NOS ENSINA A ORAR
1. INTRODUÇÃO
Tem gente cansada de orar. Essas pessoas devem merecer o nosso respeito. Sim, merece, por exemplo, a nossa admiração uma senhora que ora para que seu esposa se converta, mas ao fim de 20 anos desiste. Seria fácil criticá-la, mas ela orou durante duas décadas, sem resposta.
Também merecem o nosso respeito aqueles que, apesar do tempo de intercessão não considerada por Deus, persistem orando, seja pelo seu cônjuge, seja pelo seu filho ou neto, seja por sua saúde, seja por suas condições de vida material, seja por uma igreja mais acolhedora e menos hipócrita.
Além dos cansados de orar, há aqueles que ainda não aprenderam a orar. Há muitos anos conheci um senhor, membro de igreja havia 50 anos anos. Eu pedi, numa classe da Escola Dominical, para orar. Ele repetiu o “Pai Nosso”. Depois me disse que não sabia orar.
Pode ser que orar em público seja um peso demasiado para os tímidos, mas os tímidos não precisam ter medo de Deus e podem derramar seus corações, sem procurarem palavras, diante daquele que ouve até os mudos. A estes devo dizer que orar em voz alta é uma experiência arrebatadora, que todos devem buscar.
Um terceiro grupo de grupo de cristãos é constituído daqueles que não conseguem tempo para orar. Uns não têm tempo porque não o têm mesmo, pois que vivem numa desenfreada correria, necessária correria para uns, ignorante correria para outros, que correm porque todos correm, mesmo que em direção ao nada.
Outros não têm tempo porque a oração não é uma prioridade nas suas vidas. Vencidas todas as prioriedades — e nunca as vencemos — , não sobra tempo para estar na presença de Deus, numa indicação que fruir da companhia do Pai não é importante.
Outros não têm tempo para orar porque suas agendas diárias são desorganizadas.
Um quarto grupo entende, menos por suas palavras e mais por suas atitudes, que não precisam orar. Se Deus sabe quais são as nossas necessidades, por que orar? — perguntam com seus gestos. Não precisamos orar com palavras, mas apenas pensar em Deus — afirmam outros, confundindo oração com meditação.
Tem gente que vive da oração, em oração, pela oração e para a oração.
Estes são aqueles alimentados pela oração.
Estes são aqueles que levam todas as suas alegrias e perplexidades ao trono dAquele que tudo pode, confiando que Ele tudo fará.
Estes são aqueles que confiam intercessoriamente a Deus os problemas dos outros porque preocupados sinceramente com eles (nunca hipocritamente, como se fosse um apenas um dever que se cumpre) e por isto capazes de fazerem algo pelo bem-estar do outro, mesmo que isto custe algo e sem esperar nada em troca.
Estes são aqueles que acordam, pela manhã, interessados em manter suas vontades lincadas com o propósito do Pai porque foram dormir com esta mesma paixão.
Estes são aqueles que, ao longo do dia, encontram lugar e tempo para consultar o coração do seu Senhor.
2. JESUS ORAVA
Seja qual for a categoria em que nos encontremos, precisamos nos lembrar constantemente do que significa orar.
Orar é uma prática tão necessária à vida que Jesus orava. O próprio Deus, quando Deus-Conosco (Emanuel), logo submetido às mesmas pressões que nós, precisava orar. Todos os grandes momentos da sua vida foram precedidos, acompanhados e sucedidos de oração.
Ao ser batizado por João Batista, Jesus se pôs a orar e com tanta alegria que o céu se abriu e pôde ouvir a voz do Pai se rejubilando com Ele (Lucas 3.21).
Antes de caminhar sobre as águas do mar, Ele despediu a multidão e subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só. (Mateus 14.23).
Antes de começar Seu calvário, Jesus passou por uma longa jornada de oração. Ele sabia qual era o propósito da Trindade, mas também sentia o peso do momento que passaria a viver; poristo, orou nos seguintes termos: Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade (Mateus 26:42). Na hora mesma da morte, seu clamor foi: Pai, por que me desamparaste? (Mateus 27.46)
A oração, para Jesus, que era capaz de passar uma tarde inteira (Mateus 14.23) ou uma noite completa orando (Lucas 6.12), não era um teatro, nem uma formalidade, nem uma magia, mas a busca da companhia e da resposta do Pai.
Orar, portanto, é uma prática tão necessária à vida que Jesus nos ensinou a orar. Ele ensinou seus discípulos a orar por meio do exemplo, já que era um Mestre de oração, de modo que quando se retirava para orar, levava-os junto (Cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras, tomando consigo a Pedro, João e Tiago, subiu ao monte com o propósito de orar — Lucas 9:28).
Jesus ensinou seus discípulos a orar por meio das palavras. O Mestre gastou tempo com os seus discípulos ensinando porque orar, o que orar e como orar. Este ensino está coligido em Mateus 6 e em Lucas 11.
3. NÓS PRECISAMOS APRENDER A ORAR COM JESUS.
Na Sua oração-modelo (Mateus 6.9-13), que pode ser repetida, mas não deve ser repetida sempre, para que não se torne algo mecânico e sem relação com as nossas entranhas, Jesus nos ensina a orar.
Pai nosso, que estás nos céus (verso 9) mostra que orar é permitir que Deus mexa com as nossas vidas. A oração é a irrupção do sobrenatural no natural. Orar, portanto, é reconhecer a dimensão sobrenatural, isto é, espiritual da experiência humana. Orar é o meio pelo qual o relativo se encontra com o Absoluto. Orar é o meio pelo qual o imanente se encontra com o Transcendente. Só ora aquele que reconhece que a via natural, que tem tem seu campo insubstituível, não esgota a vida cristã.
Dizer Santificado seja o teu nome (verso 10) implica em mover o nosso coração em direção a Deus. É conformar a nossa vontade ao Seu propósito. “Quanto mais nos aproximamos do pulsar do coraçao de Deus” (Richard Foster), mais desejamos nos assemelhar ao Seu caráter, revelado em Jesus Cristo. Assim, orar é desejar as coisas que Deus deseja. (Foster)
Clamar venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu (verso 10) significa mover o coração de Deus em nossa direção. A propósito, esta é uma afirmativa estranha. Não é Ele misericordioso? Não habita o seu Espírito conosco? Estas perguntas se esquecem que Ele quer nos alcançar com gestos de misericórdia, mas só o fará se quisermos. Neste sentido, orar é dizer o que queremos e esperar o que Deus quer. Nossa maior dificuldade é aceitar o que Ele quer, rogando que Seu reino venha, que sua vontade seja feita. Não é fácil orar assim. O natural em nós é: “venha o meu reino; faça-se a minha vontade”. Por isto, oração é uma caminhada no altiplano do sobrenatural.
Pedir o pão nosso de cada dia (verso 11) é reconhecer com tristeza a nossa impotência para a superação das dificuldades que enfrentamos e admitir com alegria a nossa dependência de Deus. Nós trabalhamos pelo pão, mas é Deus quem no-lo dá. Nós somos capazes de trabalhar pelo pão, mas não somos capazes de obtê-lo, se o Pai não no-lo der.
Quando rogamos perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores (verso 12), não só nos capacitamos a entrar na presença de Deus, porque perdoados e santificados, logo assemelhados a Ele, como nos movemos em direção ao outro, que não pode ser ignorado, porque a verdadeira religião implica no bem estar do Adorado, do adorador e de todo testemunha da adoração. Neste sentido, a oração nos tira de nós mesmos e nos põe a caminho do outro.
Então, ao orarmos não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre (verso 13), resumimos a natureza humana, capaz de cair em tentação, e a natureza divina, soberana sobre todo o universo. Nossa oração deve começar e terminar colocando-nos em nosso lugar e colocando Deus no Seu lugar. Quando invertemos estes papéis, não estamos verdadeiramente orando. Um dia destes recebi’, chocado, uma carta por meio eletrônico, que terminava assim: “Eu ordeno a bênção de Deus sobre você”. Quem ora assim não entendeu que o Pai Nosso que está no céu é o Pai que tem o domínio da história e o controle das respostas aos nossos pedidos. A nós, cabe desejar… desejar e esperar, jamais determinar, declarar, ordenar.
4. DECIDINDO ORAR
Nós sabemos todas estas coisas. Por que, não somos, como queremos, pessoas que vivem da oração, em oração, pela oração e para a oração?
Temos vidas ralas espiritualmente por não nos dispormos a gastar tempo com Deus, num tempo em que o produto mais escasso é o próprio tempo. Na verdade, temos tempo para tudo, até para não fazer nada, mas não encontramos tempo para orar.
Temos vidas medíocres espiritualmente por pedirmos demais por nós mesmos e menos pelos outros. Quando agimos assim, esquecemo-nos que orar é mover o coração de Deus em direção àqueles por quem oramos.
Temos vida infrutíferas espiritualmente por não resolvermos um conflito que nós mesmos criamos, aquele que diz respeito à relação entre ação e oração. Orar não é negar a ação, que deve ser o complemento da oração, nunca o contrário. Neemias nos dá a seqüência certa: Nós oramos ao nosso Deus e, como proteção, pusemos guarda contra eles, de dia e de noite (Neemias 4.9). Orar é cooperar com Deus.
Temos vidas desertas espiritualmente por temermos a resposta de Deus, que tanto pode ser
. a transformação de alguns pães numa banquete de pães para uma multidão, numa grande festa do Seu poder;
. “a minha graça te basta” e não a bênção da cura que desejamos, ou
. “tome a sua cruz, vem e segue-me” e não um “entre no gozo do teu Senhor”.
No fundo, muitos não oramos porque temos medo do que Deus pode fazer conosco. Eu não posso orar para que Deus mande mais obreiros para os campos, porque, como resultado, Ele pode me enviar ao campo pelo qual oro.
Seja como estivermos, se queremos orar, Deus nos toma em nossa fraqueza e nos conduz a experiências mais profundas, desde que as queiramos. Ninguém é insuficiente indigno de orar. Uma das mais lindas preces da Bíblia é a de um homem tragado por um peixe. Todo aquele que crê que Deus governa a sua vida pode orar. Afinal, Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu (Tiago 5.17).
Orar é uma decisão, que tem muitas conseqüências. Decida hoje tornar-se uma pessoa de oração. Você vai ver que sua vida vai experimentar muitas “coincidências”, porque elas acontecem mais quando oramos (William Temple). Há fatos que ocorrem conosco, que não dá para explicar senão pela oração, como aconteceu com Pedro e com Isaque. Pedro, pois, estava guardado no cárcere; mas havia oração incessante a Deus por parte da igreja a favor dele. (Atos 12.5) Isaque orou ao Senhor por sua mulher, porque ela era estéril; e o Senhor lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu. (Gênesis 25.21)
5. COMO ORAR
Oração é uma experiência muito pessoal. No entanto, aprendendo com a oração de Jesus e com as orações da Bíblia, podemos dizer que a oração deve conter pelo menos quatro elementos, em qualquer ordem. Eventualmente, podemos fazer só um tipo de oração, mas geralmente esses elementos devem ser combinar numa mesma prece. Esses elementos são: exaltação a Deus, gratidão a Deus, confissão a Deus e pedido a Deus.
Nossa oração deve exaltar a Deus. Experimente exaltar a Deus. Você vai conhecê-lO melhor.
Nossa oração deve agradecer a Deus por algo concreto que nos fez. Experimente agradecer, conte as bênçãos uma a um e você verá que não conseguirá.
Nossa oração deve conter um momento de confissão a Deus, num reconhecimento de uma falha especifica, não de uma “multidão de pecados”. Devemos fazer como Neemais. Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para acudires à oração do teu servo, que hoje faço à tua presença, dia e noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra ti; pois eu e a casa de meu pai temos pecado. (Neemias 1.6)
Nossta oração deve incluir nosso pedido, por nós mesmos e pelo outros. Orar não é dar ordem a Deus, mas pedir a manifestação renovada da Sua graça.
Estes conteúdos não cabem numa fórmula, uma vez que devem ser espontâneos. Entre um oração “certinha” e uma oração espontânea, Deus ouvirá a espontânea, como a de Ana, que se levantou e, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente (1 Samuel 1.10). Oração de valor não é aquela de fraseado bonito, mas aquela que contém as lágrimas do meu coração.
Conquanto o conteúdo importe, alguns cuidados podem ser tomados.
Nossa oração deve ser sempre dirigida ao Pai, porque é Ele Quem efetua o nosso querer. Há pessoas que oram diretamente a Jesus e terminam as suas preces com um “em nome de Jesus”. Podemos orar a qualquer pessoa da Trindade divina, mas a Bíblia nos ensina a orar prioritariamente ao Pai.
Nossa oração deve ser dirigida ao Pai em nome de Jesus. É Ele quem intercede por nós. Quem ora não tem poder. O Pai tem. O Filho tem. O Espírito Santo tem. Segundo a orientação bíblica, devemos orar ao Pai, em nome de Jesus que intercede por nós e na certeza de que o Espírito Santo interpreta os nossos pedidos. Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. (Romanos 8.26)
Quero sugerir uma pequena diferença entre a oração pública, no templo, e a oração particular, no interior de um cômodo de nossa casa. Trata-se de uma convenção em torno do “amém”, que quer dizer “assim seja”, que implica compromisso. Quando orarmos em particular, terminemos assim: “em nome de Jesus, amém”. No entanto, na oração pública, o mais adequado é terminar com “em nome de Jesus” e esperar que a congregação responda “amém”, concordando e se comprometendo conosco.
6. PARA ORAR MAIS E MELHOR
Queremos orar mais e melhor?
Isto acontecerá quando tivermos o intenso desejo de estarmos na presença de Deus, que exige santidade. Oração é para todos aqueles que desejamos ser santos.
Basta acreditar, como acreditamos, que não precisamos de intermediário para orar. A oração não é um dom que algumas pessoas têm; antes, é um privilégio de todo cristão; mais que isto, é uma necessidade de todo cristão. Não se pode ser cristão sem oração.
Para nos estimular a orar, uma boa prática é “colecionar” respostas às nossas orações. Mesmo sabendo que há orações sem resposta, inclusive na Bíblia, reconhecemos que a maioria é respondida. A primeira parte doração de Jesus (Pai, se possível, passa de mim este cálice) não foi respondida. A segunda o foi: Não se faça a minha vontade, mas a tua. (Mateus 26.42)
Como Daniel, devemos buscar uma disciplina pessoal para a oração. Daniel orava num mesmo lugar três vezes ao dia e de joelhos. Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer. (Daniel 6.10)
E nós, como oramos?
Se você não tem o hábito de orar, procure desenvolvê-lo. Comece com cinco minutos, nem que tenha que acordar cinco minutos mais cedo. Depois passe para dez. A maioria de nós não pode orar três horas por dia como Lutero, mas pode orar mais do que ora.
Ao orar, uma boa prática é começar lendo a Bíblia por alguns minutos. Se tiver um devocionário relacionado àquele texto, use-o para enriquecer sua leitura. Lendo a Bíblia, nós nos capacitamos a entender a mente de Deus. Será mais fácil orar a Ele e continuar ouvindo a Sua voz.
Ao orar no interior do seu quarto, não use de palavras bonitas, mas trate de derramar o seu coração. Se for possível, ore em voz alta.
Ao orar numa igreja, derrame o coração da congregação diante do Pai. Não dê ordem a Deus. Não pregue um sermão. Apenas ore.
7. CONCLUSÃO
Eis como devemos viver: Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. (Filipenses 4.6)
(C)ISRAEL BELO DE AZEVEDO