Primeira oração de Jesus “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém". (Mt 6.9-13; cf. Lc 10.21-22) 1 Esta oração não é propriedade de nenhum segmento cristão, seja católico, luterano, anglicano, presbiteriano, batista ou assembleano. Ao mesmo tempo, nenhum destes grupos deve deixar de fazer esta oração, em particular ou em grupo. Assim, podemos pensar nesta oração, a Oração do Pai Nosso (porque é a expressão que a inicia, embora seja também chamada de "Oração do Senhor" ou "Oração Dominical — por meio do latim ‘Dominus’, que quer dizer "Senhor"), como uma fórmula, a ser repetida. Ela pode ser meditada e recitada, que ainda assim não empobrecerá, tão ricamente inesgotável é. No entanto, se apenas a meditamos, perdemos. Se apenas a recitamos, repetindo-a, perdemos. Assim mesmo, devemos memorizá-la. Enriquecemo-nos quando a decoramos e repetimos. Contudo, a riqueza maior é pensar nela como uma aula sobre oração. Por isto, é também chamada de "Oração-modelo". 2 Antes de ensiná-la, Jesus ofereceu uma série de instruções, para ressaltar que, em nossas orações, devemos orar de modo pessoal, não-protocolar, não-burocrático, dirigindo os nossos sentimentos na forma de palavras a Deus como o que Ele é: Nosso Pai, a quem pertencem o reino, o poder e a glória, eternamente. Todas as nossas orações são a Ele, não a nós mesmos, não à congregação que nos ouve, no caso de uma prece pública. Todas as nossas orações devem louvar a Deus, afirmando sua imensa santidade, declaração que põe a nu a nossa maldade. 3 A oração começa e termina na mesma intenção: exaltando a Deus, pelo que Ele é: santo poderoso, poderoso e glorioso. O mais valioso é como este Deus exaltado é chamado: por "Pai". O lugar deste Pai em nossas vidas é que Ele é "nosso" Pai. Não é um pai genérico de todos; é nosso. Ele é poderoso e todo o universo Lhe pertence, mas Ele é "nosso". Ele é santo, mas Jesus ensina a santificá-lo. Como podemos santificar a Deus? Nunca saberemos. O máximo que podemos dizer é: "Pai, tudo és santo. Pai, que bom que tu és santo. Tu és santo e isto me deixa seguro. Tu és santo e eu preciso ser santo também. Nunca serei santo como tu és, mas amanhã poderei ser mais santo do que sou hoje. Eu torno Deus santo quando desejo que Ele me santifique. Diante desta santidade divina, eu posso ficar desesperado. Mas, antes de ser santo, Ele é Pai, Nosso Pai, pelo que não preciso ficar desesperado". Quando dizemos "Pai nosso" (nosso Pai), evidenciamos que a oração é sempre relacional. Quando oramos, entramos em comunhão com Deus. Quando dizemos "Pai nosso", deixamos o recôndito de nosso quarto e nos abrimos para Deus na presença daqueles que creem como nós cremos. 4 A oração termina com uma afirmação majestosa: "teu é o reino, o poder e a gloria para sempre". Esta frase nasce do encontro com Deus. Este encontro faz germinar um desejo de honrar a Deus. Assim, quando digo que o reino é "teu", afirmo que o reino não é "meu". Temos os nossos reinos, alguns minúsculos. Assim mesmo, alguns somos reis autoritários, que governam seu reinos com palavras violentas e punhos de ferro. Há pastores que se acham reis da sua igreja e se desesperam quando algo sai do seu controle. O conselho é orarem como Jesus orou: "Teu é o reino, o poder e a glória. Logo, Senhor, o que faço aqui é trabalho de servo. Ensina-me a te servir, servindo a meus irmãos". Há pais (pais e mães) que se acham reis sobre seus filhos. Seu amor pelos filhos foi contaminado por um sentimento de posse e por uma prática autoritária. Assim, não são pastores dos seus filhos, mas algozes. Eles não podem dispor dos seus filhos. Devem amá-los, defendê-los, orientá-los, jamais exauri-los, espancá-los, sufocá-los. Precisam aprender a orar como Jesus ensinou: "Teu é o reino, o poder e a glória. Meus filhos são teus. Abençoa-os por meu intermédio. Senhor, se sigo padrões que aprendi e que não aprovas, ajuda-me a ser um pai como tu és". Há cônjuges (maridos e esposas) que se acham reis sobre seu parceiro de vida conjugal. Sempre querem ter a ultima palavra, e não sabem ouvir. Sempre tomam todas as decisões, porque nunca se acham errados. Suas vontades são as únicas, como o seu cônjuge não pensasse, não desejasse, não sonhasse. Precisam aprender a orar como Jesus ensinou: "Teu é o reino, o poder e a glória. Graças te dou, Senhor, pelo meu cônjuge. Graças te dou porque somos diferentes. Não nos uniste para dominar um sobre o outro, mas para ser iguais e companheiros. Tu me conheces, Senhor, e sabes de como gosto de mandar e reinar. Não ha felicidade nisto. Abençoa-me para que eu possa amar e respeitar o cônjuge que me deste. Não sou rei. Sou servo de ti e do meu amor aqui". Há filhos que se acham reis. Exigem dos seus pais como se fossem reis. Tratam seus pais como se fossem escravos. Não têm experiência, mas querem ensinar. Não têm responsabilidade mas querem conduzir. Se há pais que abusam da violência moral ou física, também há filhos que usam da força (seja espancando ou chantageando) para dominarem seus pais. Filhos que se acham reis precisam aprender a orar como Jesus ensinou: "Senhor, teu é o reino, o poder e a glória. Ajuda-me a amar meus pais, a reconhecer seu amor por mim, a aceitar sua orientação, a cuidar deles, se for necessário. Ajuda-me, Senhor, a guardar a minha língua e a recolher o meu braço. Quero amar, Senhor". Há chefes que se acham reis sobre seus subordinados