Pregado na IB Itacuruçá, em 28.11.2004, noite No final de 2004, um jogador evangélico de futebol foi visto, filmado e fotografado chutando um torcedor no chão, depois que seu time foi recebido a gritos e socos por parte da sua torcida no aeroporto. O pai do jogador levou um soco e teve que ser socorrido num hospital da cidade. Entrevistado por telefone ao lado do pai no hospital por um programa de televisão, ele confessou entre lágrimas o seu desequilíbrio, arrependido pelo que chamou de mau testemunho. Estou falando de Zinho, atleta do Flamengo carioca. Mais tarde, ele deu uma entrevista a uma revista evangélica (Enfoque Gospel), de que leio o parágrafo final da reportagem: “Sobre o incidente da briga, Zinho diz que ainda está triste, mas garante que se arrependeu e aprendeu algumas lições: ele não é perfeito, é preciso vigiar e não há nada como uma queda para impedir a vaidade. O jogador lembra que, no dia seguinte ao episódio, tinha um testemunho marcado. “No momento em que eu estava pensando sobre isso, Deus falou que a intenção do Inimigo era fazer eu desistir do que o Senhor tem para mim.” Sendo assim, não faltou, antes honrou o compromisso explicando o que aconteceu, mostrando arrependimento e emocionando-se especialmente. Zinho crê que sua experiência vai ajudar outras pessoas a entender a falibilidade humana, mesmo quando se conhece a Cristo”. Revista Enfoque Gospel, dezembro, 2004.Há outras situações. A violência doméstica, especialmente de maridos contra esposas, habita também lares evangélicos até mesmo nas manhãs e nas tardes que antecedem os cultos dominicais. Também na igreja, defensores da verdade apelam para algum tipo de violência, geralmente verbal, para que suas posições prevaleçam. Com o tempo, algumas pessoas entendem que devem apenas participar dos cultos, e de nenhum ministério, por causa do seu temperamento, em função dos conflitos que geraram inimizades e rancores ao longo do tempo. (A propósito, toda a vítima da violência deve ser denunciada.) Entre esses cristãos explosivos, uns não têm percepção de sua dificuldade e convivem com este traço da sua personalidade, esforçando-se ou não para superá-lo. Outros acham natural e necessário o seu comportamento, porque, segundo eles, voltados para a defesa de valores elevados. Outros ainda não têm qualquer percepção acerca da inadequação de boa parte de suas atitudes; logo, nada fazem para compreender suas próprias reações. Essa dificuldade não pode ser explicada por nenhum tipo de determinismo ou reducionismo, porque, guardadas inúmeras exceções, a tendência à agressão e à violência pode ser concebida como um traço da personalidade, como uma resposta aprendida no ambiente, como um reflexo estereotipado de determinados tipos de pessoas ou até como uma manifestação psicopatológica. Em síntese, a agressão e a violência devem ser vistos como “consequências de processos biopsicológicos subjacentes” ao ser humano. Cf. BALLONE, G.J., ORTOLANI, I.V. Comportamento Violento. Em: PsiqWeb. Disponível em http://www.psiqweb.med.br/forense/violen.html. Acessado em 23.11.2004. Os resultados são tragicamente conhecidos e pode levar à ruptura de relacionamentos interpessoais, à perda do emprego, à suspensão ou expulsão da escola, à separação conjugal e mesmo ao envolvimento em brigas corporais (especialmente no trânsito) que podem resultar em ferimentos e mortes.A psiquiatra chama a este traço, quando se torna patológico, de Transtorno Explosivo da Personalidade, definido como a ocorrência de episódios bem definidos em que a pessoa fracassa em resistir a impulsos agressivos, nestes casos, o grau de agressividade expressada durante essas situações é amplamente desproporcional à eventual provocação ou ao eventual estresse que desencadeou a reação. [Cf. DSM-IV. Citado por Cf. BALLONE, G.J., ORTOLANI, I.V. Comportamento Violento…] RAZÕES ESSENCIAISHá muito tempo os cientistas vêm tentando explicar a razão do comportamento violento. Recentemente, uma equipe analisou 25 mil estudos envolvendo oito milhões de participantes. Ficou claro que o fator mais forte vem do impacto da sociedade, de ambientes e dos processos sociais. A equipe concluiu melancolicamente que “virtualmente qualquer um pode ser agressivo se suficientemente provocado, estressado, contrariado”. FISKE, Susan e outros. Social Psychology: Why Ordinary People Torture Enemy Prisoners. Science 2004 306: 1482-1483. Citado por BONALUME NETO, Ricardo. Qualquer um pode torturar, diz cientista. Folha de S. Paulo, 26.11.2004, p. 1-14. Disponível também em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2611200402.htm.Em termos simplificados, podemos pensar que as reações explosivas podem ser atribuídas a dois eixos de fatores. O primeiro é interno e o segundo é externo. 1. O fator interno é composto pela nossa biologia, incluídas as nossas dimensões biológica (ou bioquímica) e psicológica. Como sabemos, “há evidências de que alergias, doenças do cérebro, distúrbios bioquímicos e, talvez, anomalias genéticas podem provocar raiva ou, pelo menos, tornar algumas pessoas mais predispostas à raiva do que outras”. TRAVIS, Carol. Anger. Citado por COLLINS, Gary. Aconselhamento cristão. São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 144. Este fator não pode ser esquecido, mas não pode ser superestimado, numa espécie de determinismo biológico que isente o explosivo. (A propósito, um estudo, que devia varrer o modo preconceituoso como os doentes mentais são tratados, revelou a relação entre violência criminosa e transtornos mentais: apenas 3% dos indivíduos presos têm problemas mentais. BALLONE, G.J., ORTOLANI, I.V. Comportamento Violento…) Essas informações nos ajudam a perceber que as eventuais explicações de fundo biológico para comportamentos violentos, físicos ou verbais, não os tornam aceitáveis. Os indivíduos devem continuar respondendo por seus atos e aprender, a partir desse conhecimento, a como lidar com eles de forma não destrutiva. FISKE, Susan e outros, op. cit. 2. O segundo fator tem a ver com o ambiente, o meio em que vivemos.Todos os seres humanos são expostos a situações conflitivas, porque as relações humanas são necessariamente conflitos, porque são o encontro de histórias, personalidades, desejos e atitudes. Sofremos quando nos esquecemos desta condição humana inaugurada pela Queda do ser humano.Assim, uma criança que aprende a gritar como instrumento de defesa poderá se tornar um adulto que tenderá a resolver todos os seus problemas no grito. Uma criança que cresce em meio a gritos, socos e pontapés pode vir a achar que isto é normal e até desejável, o que explica por que filhos agredidos se tornam pais agressores.Não se pode